Luso-Poemas - Fala-nos um pouco de ti. Quem és, de onde vens e para onde vais.
MarySSantos - Quando pergunto-me quem sou um quebra-cabeça se desmonta e fico atordoada pois na hora da montagem sempre sobra peças de mais ou acaba faltando algumas para concluir o interior. Mas posso dizer um pouco do que escreveram de mim antes de me atentar para esta indefinição. Meus avós maternos eram Português lisboeta e uma índia nativa da Tribo Karipuna. Já os paternos; o avô foi nascido e criado na região nordeste e guerreira do Brasil e vindo para o Norte uniu-se em matrimônio com negra marajoara. Vim desta mistura, onde histórias me alegram e por vezes me entristecem, mas feliz por ter nascido livre, correndo descalça numa terra, onde a mata que me cerca é imensa e me oferece o ar mais puro do mundo, um lugar onde há fartura de água e os frutos estão ao alcance das mãos. Com a formação em Geografia Física e Gestão Pública, exerço minhas atividades no serviço público Para onde vou? Sigo a vida apenas, mas sempre atenta aos rumos que ela me leva,
L.P. - Como e quando a poesia surgiu na tua vida?
MarySSantos - Colocando a poesia em primeira linha, desde a infância já existia em mim um apego por ela, não com palavras, mas com os olhos da alma. Com relação à escrita poética, ela nasceu num momento em que foi necessário me afastar dos trabalhos em ‘ares livres’ e me vi aprisionada entre quatro paredes com trabalhos burocráticos. Aconteceu em 2009.
L.P. - O que significa para ti "ser poeta"?
MarySSantos - Um poeta sempre está de mãos vazias e vive correndo atrás do que pode preenche-las. É um peregrino.
L.P. - Qual é o poema que mais te orgulhas de ter escrito?
MarySSantos - O primeiro. Ele foi um fracasso total e foi através dele que me fiz os questionamentos e comecei a procurar conhecimento para entender a bela arte da escrita. Digamos que meu primeiro poema lançou-me um desafio que resolvi abraçar. Amante de aventuras que sou, estou amando esta busca infinita...
L.P. - Qual é o poema que gostarias de ter escrito?
MarySSantos - O mais belo. Porém já foi escrito por mãos divinas (acredito); nosso planeta!
L.P. - Fala-nos do teu processo criativo. Onde vais buscar a inspiração? Quanto tempo levas a escrever um poema? Procuras a perfeição das palavras e/ou a sinceridade do pensamento?
MarySSantos - Meu processo criativo é de observação e análise. Às vezes num primeiro olhar aparenta algo bobo e vazio, mas veio de um movimento perturbado ou feliz que passou ao lado ou de um queixume que alguém fez (e isso é o que mais tem ao redor). Geralmente é de algo que me fez refletir, que me prendeu atenção e isso vai da ação cotidiana humana ao simples voo de um inseto. Também há muito nele de mim, porém, não necessariamente do somente eu em si, mas da capacidade de ouvir o outro e compreender as igualdades e diferenças e, ao mesmo tempo relacionar tudo, e por que não, com as minhas próprias. Não sou de ficar horas ou dias esculpindo um texto. Sou impulsiva, imediatista e isso às vezes me leva a meter os pés pelas mãos em alguns textos. Procuro sim, a perfeição das palavras, mas principalmente, dizer de forma diferente, o que penso. Às vezes há umas mentiras pelo meio para dar emoção. A realidade às vezes é tão insossa.
L.P. - Tens algum livro publicado ou gostarias de ter?
MarySSantos - Nunca publiquei um livro. Também ainda não pensei nesta dor de cabeça. Mas, se existir analgésicos para ela, quem sabe um dia eu possa começar a pensar.
L.P. - Como encontraste o Luso-Poemas?
MarySSantos - Encontrei enquanto procurava na internet um poema para minha netinha apresentar na escola. Oh, sim, eu já sou avó!
L.P. - O que é que gostas mais no Luso-Poemas?
MarySSantos - Das intempéries. Quando os poemas (inclusive os meus) caminham numa procissão cabisbaixa e melancólica, o clima muda de repente; surgem furacões fazendo reviravoltas e todos começam a correr, para enfrentar ou para se proteger, e aí vem a constatação de que ainda há vida.
L.P. - O que é que gostas menos no Luso-Poemas?
MarySSantos - Quando as intervenções acontecem, não a favor da escrita, mas motivadas a ofender e desrespeitar quem, correta ou incorretamente, está a movimentá-la.
L.P. - Se pudesses mudar algo no Luso-Poemas, o que seria?
MarySSantos - Quando se pensa em mudanças/reformas, mexer numa simples coluna pode danificar o corpo inteiro do que foi construído e aí o que está ruim pode até piorar. Na minha visão, que pode estar certa ou errada, o problema não está na estrutura do site, e sim, na cabeça de cada um que faz dele sua casa. Mas a mente de cada um a si pertence, portanto...
L.P. - Resume o Luso-Poemas numa só frase.
MarySSantos - O luso é um mundo habitado por seres com características humanas.
L.P. - Quais são os teus passatempos preferidos, além da escrita?
MarySSantos - Leitura, quando estou em repouso e, fazer trilha; gosto muito de interagir com a floresta.
L.P. - Qual é o teu livro, música e filme preferido?
MarySSantos - Todos os livros, de alguma forma, passam conhecimento e nos levam em viagens. Com relação a filmes, necessariamente não tenho apenas um preferido e quanto à música, desde que me passe algo de bom e valoroso, sou eclética.
L.P. - Qual é a tua bebida e comida preferida?
MarySSantos - Em dias festivos, aprecio um cálice de vinho (um apenas! rs). A comida brasileira é ainda a que prefiro.
L.P. - Se tivesses 30 segundos para deixar uma mensagem ao mundo, o que dirias?
MarySSantos - Nunca permita que surja a dor da fome nos olhos de uma criança.
L.P. - Se pudesses escolher um lugar ou tempo para viver, qual seria?
MarySSantos - Meu lugar preferido é dentro de mim e o tempo é o presente.
L.P. - Quem gostarias de ter conhecido e porquê?
MarySSantos - Madre Teresa de Calcutá. Para aprender com ela como tratar e amparar meus semelhantes.
L.P. - O que dizem os teus olhos?
MarySSantos - Que se todos quiserem o mundo pode sim viver em paz.
L.P. - Para terminar, queres deixar uma mensagem aos Luso-Poetas, talvez em verso?
MarySSantos - Duas vezes no ano, a Terra muda de posição, para que todos possam perceber e provar um pouco de cada estação. O poeta também detêm a capacidade de inovação. (não gosto muito de rimas, mas nasceu assim, então deixa)