Os testemunhos poéticos são, por certo, os mais valiosos e profundos, particularmente em tempo de guerra e revolução.
Volvidos cerca de trinta anos das lutas armadas que marcaram o fim do Império colonial português e das transformações ocorridas a partir de 25 de Abril de 1974, acedi a por a público alguns poemas, de cuja qualidade literária muito duvido, mas que, e disto não tenho a menor dúvida, são produto de vivências e estados de alma de grande pureza e íntima relação com aqueles acontecimentos.
Tem sentido divulgá-los agora?
É já tempo de olhar para trás?
Terão algum interesse futuro?
Que importa, leia-os quem, por bem, assim o entender.
Por mim, cumpro o gesto singelo de homenagear, recordando, todos os sacrifícios, dores e sofrimentos de quantos, mártires, heróis ou não, meros figurantes anónimos, vivos ou mortos, de um lado e de outro das partes em confronto, comigo se cruzaram.
Índice
1. Dedicatória pág. 3
2. Função poética pág. 4
3. Canção de Abril a abrir pág. 5
4. Eu próprio me transformo e consumo pág. 7
5. Estereótipo pág. 8
6. De olhos postas nas estrelas pág. 9
7. Obscuridade pág. 11
8. Entre mim, o lago e o rio pág. 12
9. Cristo Maconde pág. 13
10. Agora pág. 14
11. Nostálgica pág. 15
12. Sétimo dia pág. 18
13. Drama de um dia de chuva pág. 19
14. Silêncio na guerra pág. 20
15. Morte e vida pág. 21
16. Hino ao Amor e á Liberdade pág. 22
17. Todos somos a um tempo bons e maus pág. 23
18. Natal pág. 24
19. Quimeras pág. 25
20. Natal 71 pág. 26
21. Instante pág. 27
22. Quem ? pág. 28
23. Tarde de tédio pág. 29
24. O anjo dorme pág. 30
25. Pesadelo pág. 31
26. Angola, pátria mulata pág. 33
27. Reflexão pág. 34
28. Dia de correio pág. 35
29. Oceano confuso pág. 36
30. Tantã pág. 37
31. Viagem a Nangade pág. 38
32. Eu e os outros pág. 40
33. Drama da nossa existência pág. 41
34. Último reduto pág. 42
35. Grito de guerra pág. 43
36. Análise poética de um certo processo mental pág. 44
37. Desespero pág. 46
38. Tese e antítese de mim mesmo pág. 47
39. Na hora da partida pág. 48
Canção de Abril a abrir
Passam veleiros
Entre mim
E a História
Nesta tarde de Abril
A abrir
Entre mim e o areal luzente
Farol psíquico irradiante
Mar de eterno desentendimento
Sereno
Agora que o Inverno passou
Calmo
Para mim que sou do interior
Para quem não é forma de vida
E tão só praia lânguida
Á qual faço do meu corpo presente
Já que eu estou sempre ausente
A travar guerras sem tempo
Noutro veleiro
O horizonte se materializa
E me leva a crer nos geógrafos
São meus todos estes mares
Aqui e lá é minha a terra
Curto espaço me separa do futuro
Separação fluída
Horizonte materializado em velas...
Quantas vez mais farei meu corpo presente à guerra?
Nesta tarde de Abril
A abrir
Prostrado que estou em praia lânguida
Procuro apenas uma ideia cândida
Que me atire ao areal luzente
Farol psíquico irradiante
A pedir-me que negue o corpo à guerra
Quantas vez mais farei de meu corpo presente à guerra?
Porque não invade o mar a terra?