Corpos Editora : Onde os Desejos Fremem Sedentos de Ser
Enviado por AlvaroGiesta em 09/07/2013 15:39:24 (1250 leituras)
 
Preço unitário:
15,00 € Euros
Corpos Editora

Epígrafe

Quando quase se apagam as luzes no dentro da idade, acendem-se mãos voláteis
e rasgam-se rios de silêncio e sal sobre a idade do tempo.


Talvez um corpo se erga do nada e caminhe abrindo brechas no vazio…
talvez uma ave esquecida a planar no horizonte azul esvoace sobre a praia e a montanha
e cresça
em voos de esperança para além do sonho… talvez uma flor desabroche das palavras prenhes de silêncios e sombras,
e dê à luz formas ávidas de ser.

O autor




Duas linhas sobre a obra:


Diante deste livro de poesia, que se pode dizer simplesmente texto (ao invocar Irene Lisboa no “Outono Havias de Vir”) com aquilo que ela escreveu “ao que vos parecer verso chamai verso / ao resto chamai poesia”, o que disser a favor do “ Onde os Desejos Fremem Sedentos de Ser ” assumirá sempre um carácter de defesa em proveito próprio, embora não seja essa a intenção.

Como se vê pela epígrafe, Onde os Desejos Fremem Sedentos de Ser nascem numa altura da vida em que tudo se vê com outros olhos de ver… é-se mais maduro e exigente naquilo que se cria mas também se é mais hesitante em dar a conhecer aquilo que se criou. Porque “quando quase se apagam as luzes no dentro da idade, / acendem-se mãos voláteis / e rasgam-se rios de silêncio e sal sobre a idade do tempo.”
E começo a obra exactamente com uma referência, quase crítica, aos “deuses / que, esquecidos / se estiram de preguiça ao romper do manto / glacial do tempo / passando o eu – poético para uma viagem ao interior de si mesmo para descer à terra onde se “perde / na fímbria das planícies verdejantes” acabando por vaguear o espírito num espaço sem nome “fascinado por celestiais viagens” onde o grito no final o adverte que “a vida venceu a morte” e que o amanhã há-de fazer a “travessia do caos / em busca da ordem / após o nada e o princípio /.
Sem mestres por perto, apenas da leitura que fiz, ao longo da vida, de alguns nos livros de que tomava conhecimento, refinei a construção da frase de modo a conseguir uma interacção exacta entre o mundo real e a linguagem.

Sobre o Onde os Desejos Fremem Sedentos de Ser o laureado poeta, crítico e editor literário Xavier Zarco, que o leu pela primeira vez já depois de editado e sem me conhecer pessoalmente, sobre ele exerceu a sua honesta crítica e diz (cito):
<<(…) não faço favor algum ao autor ao dizer que apreciei (…) sobretudo a junção que efectua de termos ligados aos elementos água e fogo, numa espécie de dança contínua, muitas das vezes mesclando-se e, como tal adquirindo propriedades um do outro e tudo sob um constante ambiente nocturno. Mas se nesse ambiente “morre o sexo já morto das virgens” e onde os “plátanos apodrecidos conspurcam / a placidez das águas”, há algo que permanece inalterável, a “busca” mesmo que “imprecisa e indefinida dos dias longínquos” onde se inventa “a música onde não há mais música”. Esta noite, e daí talvez a utilização do elemento que naturalmente se anula, vem sob um pano de devastação, de deserto, onde “o silencioso lume das palavras semeia mãos vazias”, mas, é nesse mesmo ambiente que se torna possível erguer o poema. E, para que tal ocorra, diz o poeta: “Abrem-se-me as portas da memória / e a noite acende o lume / e a geometria do poema” porque, para concluir, “prenhe está a noite / ansiosa de ideias novas por nascer”.>>

Ora, a junção que o crítico Zarco aponta entre os elementos “água” e “fogo” e a “sua dança contínua mesclando-se e adquirindo propriedades um do outro em constante ambiente nocturno”, não é mais do que o dar corpo à palavra “nova” que, numa “busca” constante aponta para novas leituras e dinâmicas interpretações da linguagem.

Aqui o sonho do poeta–Eu transmuta-se para a palavra, que se pretende nova no seu dinamismo sem estar arreigada ao antigo. Nova no seu nascimento e que desbravará caminho como novidade para acordar os sentidos e se consciencializarem os poetas duma nova realidade que é necessária, se quisermos que a poesia não caia numa desertificação total e absoluta, pelo excesso de maus poetas no uso que fazem do falso gosto literário que tresanda nos seus banais e inócuos poemas, passando do dever da cultura ao culto da ignorância.
Por isso, o tempo–poético que nasce e morre, tal como qualquer ciclo de vida, há-de “rejuvenescer” ainda que hiberne algum tempo sob “o nevoeiro que cai cinzento, pardacento e húmido”. Há-de “a manhã na fronte amanhecer erguida” e trazer “no vento (a palavra) que em tempo algum cavaleiro andante / conheceu e desflorou”.
A evolução da palavra é como a “água” do “rio que corre / como a água na nascente / da vida” é como o “fogo” que arde e queima e transforma em “cinzas / (que) se diluem na aragem do tempo/ para fazer nascer de novo, é como “o vento / (que) magicamente afaga / e desposa a terra virgem e rubra / que em tempo algum cavaleiro andante / conheceu e desflorou.” São os desejos do poeta na descoberta e “na devassa da palavra e do verbo” com o novo sentido no verso.
É de notar ao longo de toda a obra o uso exagerado da imagística, que se torna necessária exactamente pela função que a imagem tem: dar uma certa mestria fónica e equilíbrio entre o significado e o significante na densidade do artefacto das palavras na sua fidelidade ao real. Sempre a sede da vontade presente no sonho “na ânsia de ver / no vácuo / a clarividência das límpidas águas/”.

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