Segundo Lázaro Ramos, o livro narra a vida de um brasileiro que nunca parou de lutar por seu lugar ao sol. Valdeck, rapaz pobre, cuja mãe era paralítica e o pai portador de várias enfermidades que o impossibilitavam de trabalhar, nasceu no interior da Bahia. Sua família não tinha casa própria nem renda suficiente para o sustento de um casal pobre com oito filhos. Viveram precariamente em casas de aluguel, sem móveis, sem conforto, sem sequer água encanada e energia elétrica. O grande amor de uma mãe sofrida, Paula Almeida de Jesus, manteve essa família unida, até que cada um dos filhos pudesse sobreviver por si só. Órfão de pai, Valdeck, protagonista desta obra, viu-se obrigado a assumir a família aos 16 anos de idade, tendo vivido e trabalhado para sustentar e educar os irmãos. Contra todas as apostas, estudou, venceu na vida e hoje ocupa um cargo federal, tendo seus esforços reconhecidos. Essa família de brasileiros e lutadores continuou unida, como era da vontade de uma mãe valente, mesmo após sua morte, em junho de 2000. E hoje todos os membros da família Almeida, apesar de suas vidas atribuladas ou da distância que os separa, encontram sempre uma data no calendário para se visitar e estar juntos, compartilhando momentos de alegria e tristeza. Mais do que uma história real, esta obra relata um exemplo de vida que pode servir de espelho, inclusive, para muitos jovens das nossas grandes cidades brasileiras, que, ao invés de estudar e acreditar em seus sonhos, optam por se enveredar pelos caminhos das drogas e da violência.
PREFÁCIO
A memória individual assume uma dimensão grandiosa ao apresentar aspectos marcantes da memória social. Essa é uma das características do livro autobiográfico de Valdeck Almeida de Jesus. Com um título atrativo e carregado de senso de humor (uma das marcas da personalidade de Valdeck, mesmo nos momentos mais difíceis de sua vida), “Memorial do Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden” revela a trajetória de uma vida sertaneja que comprova a frase que se tornou célebre no livro Os Sertões, de Euclides da Cunha: “o sertanejo é antes de tudo um forte”.
Para enfrentar os desafios que Valdeck e sua família sofreram em Jequié, sertão baiano, é preciso muita força de vontade e determinação. E estes são atributos inerentes à sua vida.
Conheci Valdeck nas lutas estudantis que realizamos no Instituto de Educação Régis Pacheco (IERP), o maior colégio de ensino médio de Jequié. Na época em que fui eleito presidente do Grêmio Estudantil Dinaelza Coqueiro, do IERP, Valdeck fazia parte da diretoria, na qualidade de diretor de Imprensa, onde foi co-autor do jornal “Jornada Estudantil”. Nossa gestão ficou marcada na história, uma vez que, além dos movimentos que fizemos em prol da melhoria do ensino e do acesso à cultura e ao esporte, foi esta a primeira diretoria de grêmio estudantil livre após o regime militar e a redemocratização do país. Já no período de estudante do IERP e ativista do movimento estudantil, Valdeck despontava como um poeta criativo e como um artista em busca de seu espaço. Antes mesmo do advento da Internet, ele já entrava em sintonia com o mundo globalizado, como membro ativo do campo literário, fato que lhe possibilitou participar de antologias como: “Poetas Brasileiros de Hoje”, lançada pela Shogun Editora, Rio de Janeiro, 1984; “Transcendental”, Salvador, 1998; “Heartache Poems”, iUniverse, New York, 2004; “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - 14º volume” e “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - 15º volume”, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2005; “Ensaios Poéticos”, Academia Virtual Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, 2005. Publicou ainda outros trabalhos literários em jornais de grande circulação na capital e no interior do estado da Bahia, além de ter sido colaborador do jornal “A PROSA”, de Brasília/DF. Publicou, em 2005, o livro de poesias “Feitiço Contra o Feiticeiro”, dezenove anos após ter divulgado no “Jornal de Jequié” notícia sobre o breve lançamento do referido livro. Mais recentemente, lançou “Jamais Esquecerei do Brother Jean Wyllys”, e fundou o fã-clube do jornalista e escritor Jean Wyllys.
Neste livro “Memorial do Inferno - A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, Valdeck Almeida de Jesus narra, com detalhes, a história de sua família, abrangendo sua mãe, seu pai e seus sete irmãos, onde conta passagens de momentos difíceis, como aquela onde diz que “a comida variava de pão seco com café preto a pirão de farinha com água fria. Muitas vezes dormíamos com fome, acreditando no que minha mãe dizia: “amanhã Jesus vai trazer comida”. Eu me irritava e xingava muito, pois todos os dias eu ouvia a mesma história e Jesus nunca chegava com a comida prometida.” Mas não é só. O autor se reporta também a momentos de sucesso, como o fato de ter sido aprovado em concurso do Tribunal Regional do Trabalho, em decorrência da sua boa capacidade intelectual, e de ter sido, desde criança, um aluno exemplar.
Valdeck Almeida de Jesus é exemplo para todos que sonham e procuram concretizar seus sonhos. Ele tem um pensamento fascinante: devemos ter sempre uma atitude positiva diante da vida e deixar esta imagem transparecer aos outros. Por este e mais tantos ensinamentos, e pela edificante trajetória de vida do autor, vale a pena a leitura deste extraordinário livro.
Domingos Ailton Ribeiro de Carvalho
Poeta, escritor e mestre em Memória Social e Documento
Fundador e Membro da Academia de Letras de Jequié