"Sou a nova joaninha, a outra joaninha… morreu…
Sou a joaninha que não sonha, nem espera…
...nem acredita num mundo melhor, porque não pode acreditar.
Chamam-me Joana, e não estou rodeada por uma redoma de flores que me protege do mundo.
Vejo-o… como ele é. E tenho pena de mim, porque esperei, amei e sorri, sonhei com mundos diferentes deste. Acreditei que pudessem existir. É porque acreditei, porque me lembro que dói mais. Porque sei como é sorrir e saltar e procurar mais um bocadinho de mundo, a cada dia mais um bocadinho. E acordar…como era bom acordar, mal se via um raio de sol, porque havia tanto para ver e tão pouco tempo num dia para saltar, sorrir e brincar. Tão pouco tempo que é preciso saber aproveitá-lo.
Agora vejo que não existem, nem podem… esses mundos.
Não é tortura, não é dor que vejo nos vossos olhos, é o cansaço de quem já não acredita, de quem já não se lembra de sonhar.
E eu… que sonhei… e que me lembro de como se faz para sonhar, não posso ver o mundo pelos vossos olhos. Sinto falta de sorrir e de brincar. Mas aqui neste mundo, ninguém brinca, nem sabem o que isso é… Sinto falta de quem era e já não sou, não posso ser, o mundo não me deixa ser quem sou."
in a Sombra do que Somos
A Sombra do que Somos faz parte da Colecção Segundas Salivas publicada pela Corpos Editora