
Carta-Poema
Publicado em 16/02/2009 17:57:55 | Tópico: Manuel Bandeira
| Excelentíssimo Prefeito Senhor Hildebrando de Góis, Permiti que, rendido o preito A que fazeis jus por quem sois,
Um poeta já sexagenário, Que não tem outra aspiração Senão viver de seu salário Na sua limpa solidão,
Peça vistoria e visita A este pátio para onde dá O apartamento que ele habita No Castelo há dois anos já.
É um pátio, mas é via pública, E estando ainda por calçar, Faz a vergonha da República Junto à Avenida Beira-Mar!
Indiferentes ao capricho Das posturas municipais, A ele jogam todo o seu lixo Os moradores sem quintais.
Que imundície! Tripas de peixe, Cascas de fruta e ovo, papéis... Não é natural que me queixe? Meu Prefeito, vinde e vereis!
Quando chove, o chão vira lama: São atoleiros, lodaçais, Que disputam a palma à fama Das velhas maremas letais!
A um distinto amigo europeu Disse eu: — Não é no Paraguai Que fica o Grande Chaco, este é o Grande Chaco! Senão, olhai!
Excelentíssimo Prefeito Hildebrando Araújo de Góis A quem humilde rendo preito, Por serdes vós, senhor, quem sois!
Mandai calçar a via pública Que, sendo um vasto lagamar, Faz a vergonha da República Junto à Avenida Beira-Mar!
Poema extraído do livro "Manuel Bandeira - Antologia Poética", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 221.
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