
A condição humana
Publicado em 20/11/2008 18:40:00 | Tópico: Pablo Neruda
| Por trás de mim até o Sul, o mar havia rasgado os territórios com glacial martelo, e desde a solidão arranhada o silêncio converteu-se subitamente em arquipélago, e verdes ilhas foram envolvendo a cintura da minha pátria, pólem ou pétalas de uma rosa marinha e, ainda mais, eram profundos os bosques iluminados por pirilampos, o lodo fosforescente, deixavam cair as árvores grandes cordas secas como num circo, e a luz andava gota a gota como uma bailarina verde de espessura.
Eu cresci estimulado por raças caladas, por penetrantes achas de fulgor madeira, por fragrâncias secretas de terra, ubres, vinho: a minha alma foi uma adega perdida entre os trens onde foram esquecidos dormentes e barris, arame, aveia, trigo, cochayuyo* e tábuas, e o inverno com suas negras mercadorias.
Assim meu corpo foi se estendendo, de noite meus braços eram neve, meus pés o território furacão, e cresci como rio num aguaceiro, e fui fértil como tudo o que caía em mim, germinações, cantos de folha e folha, escaravelhos que procriavam, novas raízes que ascenderam ao sereno,
tormentas que ainda sacodem as torres do loureiro, o ramo rubro da avelã, a paciência sagrada do lariço, assim a adolescência foi território, tive ilhas, silêncio, monte, crescimento, luz vulcânica, barro dos caminhos, fumaça bravia de paus queimados.
*Planta marinha comestível com mais de três metros de comprimento.
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