
A casada infiel
Publicado em 01/06/2015 17:20:27 | Tópico: Federico García Lorca
| E eu que fui levá-la ao rio Certo de que era donzela, Mas bem que tinha marido. Foi a noite de São Tiago E quase por compromisso. As lâmpadas se apagaram E se acenderam os grilos. Já nas últimas esquinas Toquei seus peitos dormidos, Que de pronto se me abriram Como ramos de jacinto. A goma de sua anágua Vinha ranger-me no ouvido Como seda que dez facas Rasgassem em pedacinhos. Sem luz de prata nas copas As árvores têm crescido E um horizonte de cães Ladra bem longe do rio
Após franqueadas as brenhas, Franqueados juncos e espinhos, Por baixo de seus cabelos Fiz um ninho sobre o limo. Eu tirei minha gravata. Ela tirou seu vestido. Eu, cinturão e revolver. Ela, seus quatro corpinhos.
Nem nardos nem caracóis Têm cútis com tanto viço, Nem os cristais sob a lua Alumbram com igual brilho. Sua coxas me escapavam Como peixes surpreendidos, Metade cheias de lume, Metade cheias de frio. Galopei naquela noite Pelo melhor dos caminhos, Montado em potra nácar Sem rédeas e sem estribos. As coisas que ela me disse, Por ser homem não repito Faz a luz do entendimento Que eu seja assim comedido. Suja de beijos e areia, Eu levei-a então do rio. Contra o vento se batiam As baionetas dos lírios
Portei-me como quem sou. Como gitano legítimo. Dei-lhe cesta de costura, Grande, de cetim palhiço, E não quis enamorar-me, Pois ela, tendo marido, Me disse que era donzela Quando eu a levava ao rio.
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