
Talvez tenhamos tempo
Publicado em 23/09/2008 21:00:00 | Tópico: Pablo Neruda
| Talvez ainda tenhamos tempo para ser e para ser justos. De uma maneira transitória ontem a verdade morreu e embora o saiba todo mundo o mundo todo dissimula: nenhum de nós lhe mandou flores: já morreu e não chora ninguém.
Talvez entre o olvido e o apuro pouco antes de ser enterrada teremos a oportunidade de nossa morte e nossa vida para sair por rua e mais rua, de mar em mar, de porto em porto, de cordilheira em cordilheira, e sobretudo, de homem em homem, perguntando se a matamos ou foram outros que a mataram, se foram nossos inimigos ou nosso amor cometeu o crime, porque já morreu a verdade e agora podemos ser justos.
Antes deveríamos lutar com armas de obscuro calibre e por ferir-nos esquecemos o porquê de estarmos lutando.
Nunca se soube de quem era o sangue que nos envolvia, nós acusávamso sem parar, sem parar fomos acusados, eles sofreram, e sofremos, e quando já ganharam eles e também nós quando ganhamos a verdade tinha morrido de antigüidade ou violência. Agora não há o que fazer: todos perdemos a batalha.
É por isso que eu penso, talvez, por fim pudéssemos ser justos ou por fim pudéssemos ser: temos este último minuto e logo mil anos de glória para não ser e pra não voltar.
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