
Na rede
Publicado em 30/07/2008 12:00:00 | Tópico: Casimiro de Abreu
| Nas horas ardentes do pino do dia Aos bosques corri; E qual linda imagem dos castos amores, Dormindo e sonhando cercada de flores Nos bosques a vi!
Dormia deitada na rede de penas - o céu por dossel, De leve embalada no quieto balanço Qual nauta cismando num lago bem manso Num leve batel!
Dormia e sonhava – no rosto serena Qual um Serafim; Os cílios pendidos nos olhos tão belos, E a brisa brincando nos soltos cabelos De fino cetim!
Dormia e sonhava – formosa embebida No doce sonhar, E doce e sereno num mágico anseio Debaixo das roupas batia-lhe o seio No seu palpitar!
Dormia e sonhava - a boca entreaberta, O lábio a sorrir; No peito cruzados os braços dormentes, Compridos e lisos quais brancas serpentes No colo a dormir!
Dormia e sonhava – no sonho de amores Chamava por mim, E a voz suspirosa nos lábios morria Tão terna e tão meiga qual vaga harmonia De algum bandolim!
Dormia e sonhava – de manso cheguei-me Sem leve rumor; Perdi-me tremendo e qual fraco vagido, Qual sopro da brisa, baixinho ao ouvido Falei-lhe de amor!
Ao hálito ardente o peito palpita... Mas sem despertar; E como nas ânsias dum sonho que é lindo, A virgem na rede corando e sorrindo... Beijou-me – a sonhar! Julho, 1858
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