
Que cor ó telhados de miséria
Publicado em 08/07/2008 01:00:00 | Tópico: António Ramos Rosa
| Que cor ó telhados de miséria Que cor ó telhados de miséria onde nasci de tanta pequenez de tão humildes ovos de nenhum querer a que horas nasceram as estrelas que um dia foram a que horas nasci? Não vim embarcado não me encontrei na rua não nos vimos não nos beijamos nunca parti
Não sei que idade tenho
Quando havia antes um antigamente havia uma esperança agora no próprio coração da ilusão onde a água limpa as pedras das ruínas entre destroços límpidos deito-me sobre a minha sombra e durmo e durmo
Quando havia antes um amanhecer à beira do abismo agora no próprio coração do coração durmo estrangulando um monstro inerme um palhaço de palha seca e pálido quando havia antes um caminho
Não houve nunca amigos nem, pureza Nem carinhos de mãe salvam a noite É preciso ir mais longe na incerteza É preciso no silêncio não escutar
A manhã que eu procuro não foi sonhada Uma árvore me ignora na raiz Perfeitamente desesperado é o meu sonho Os pássaros insultam-me na cama Só com doidos com doidos amaria perfeitamente presente na frescura do mar
Uma casa para eu ter a humildade de ser espaço a líquida frescura duma jarra um passo leve e certo em cada sombra um ninho em cada ouvido de doces abelhas cegas
Uma casa uma caixa de música e sossego Um violão adormecido na doçura Um mar longínquo à volta atrás do campo Uma inundação de verdura e espessa paz Uma repetida e vasta constelação de grilos e os galos álacres do silêncio
Um mar de espuma e alegria obscura um mar de espuma e alegria clara entre o verde e a brisa
Na brancura dos quartos a inocência poderá sonhar desnuda os insetos poderão entrar juntamente com as plantas e as aves Uma longa asa passará O mundo e o silêncio a mesma ave e o mar o mudo leão longínquo e fresco faiscará entre o ver e as lâminas solares
fonte: jornal da poesia
**************************************************
|
|