
Aos Poetas
Publicado em 22/06/2008 11:30:00 | Tópico: Miguel Torga
| Somos nós As humanas cigarras! Nós, Desde os tempos de Esopo conhecidos. Nós, Preguiçosos insectos perseguidos. Somos nós os ridículos comparsas Da fábula burguesa da formiga. Nós, a tribo faminta de ciganos Que se abriga Ao luar. Nós, que nunca passamos A passar!... Somos nós, e só nós podemos ter Asas sonoras, Asas que em certas horas Palpitam, Asas que morrem, mas que ressuscitam Da sepultura! E que da planura Da seara Erguem a um campo de maior altura A mão que só altura semeara.
Por isso a vós, Poetas, eu levanto A taça fraternal deste meu canto, E bebo em vossa honra o doce vinho Da amizade e da paz! Vinho que não é meu, mas sim do mosto que a beleza traz!
E vos digo e conjuro que canteis! Que sejais menestréis De uma gesta de amor universal! Duma epopeia que não tenha reis, Mas homens de tamanho natural! Homens de toda a terra sem fronteiras! De todos os feitios e maneiras, Da cor que o sol lhes deu à flor da pele! Crias de Adão e Eva verdadeiras! Homens da torre de Babel!
Homens do dia a dia Que levantem paredes de ilusão! Homens de pés no chão, Que se calcem de sonho e de poesia Pela graça infantil da vossa mão!
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