
LEMBREM DE MIM
Publicado em 11/02/2008 09:18:12 | Tópico: Paulo Leminski
| 1.
como quem assiste missa como quem hesita, mestiça, entre a pressa e a preguiça
2.
já me matei faz muito tempo me matei quando o tempo era escasso e o que havia entre o tempo e o espaço era o de sempre nunca mesmo o sempre passo
morrer faz bem à vista e ao baço melhora o ritmo do pulso e clareia a alma
morrer de vez em quando é a única coisa que me acalma
3.
um homem com uma dor é muito mais elegante caminha assim de lado como se chegando atrasado andasse mais adiante
carrega o peso da dor como se portasse medalhas uma coroa um milhão de dólares ou coisa que os valha
ópios édens analgésicos não me toquem nessa dor ela é tudo que me sobra sofrer, vai ser minha última obra
4 e 5.
LÁPIDE 1 epitáfio para o corpo
Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito. Este silêncio, acredito são suas obras completas.
LÁPIDE 2 epitáfio para a alma
aqui jaz um artista mestre em disfarces
viver com a intensidade da arte levou-o ao infarte
deus tenha pena dos seus disfarces
6.
Aço e Flor
Quem nunca viu que a flor, a faca e a fera tanto fez como tanto faz, e a forte flor que a faca faz na fraca carne, um pouco menos, um pouco mais, quem nunca viu a ternura que vai no fio da lâmina samurai, esse, nunca vai ser capaz.
7.
a estrela cadente me caiu ainda quente na palma da mão
8.
parem eu confesso sou poeta
cada manhã que nasce me nasce uma rosa na face
parem eu confesso sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
9.
desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia o céu vai estar limpo e o sol brilhando você dormindo e eu sonhando
nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia apenas você nua e eu como nasci eu dormindo e você sonhando
não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado [aquele dia silêncio nós dois murmúrios azuis eu e você dormindo e sonhando
nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia nada como um dia indo atrás do outro vindo você e eu sonhando e dormindo
10.
para a liberdade e luta
me enterrem com os trotskistas na cova comum dos idealistas onde jazem aqueles que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração na beira do rio onde o joelho ferido tocou a pedra da paixão
11.
en la lucha de clases todas las armas son buenas piedras moches poemas
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