
Tenho frio e ardo em febre!
Publicado em 30/01/2008 15:10:00 | Tópico: Olavo Bilac
| Tenho frio e ardo em febre! O amor me acalma e endouda! O amor me eleva e abate! Quem há que os laços, que me prendem, quebre? Que singular, que desigual combate! Não sei que ervada flecha Mão certeira e falaz me cravou com tal jeito, Que, sem que eu a sentisse, a estreita brecha Abriu, por onde o amor entrou meu peito.
O amor me entrou tão cauto O incauto coração, que eu nem cuidei que estava, Ao recebê-lo, recebendo o arauto Desta loucura desvairada e brava.
Entrou. E, apenas dentro, Deu-me a calma do céu e a agitação do inferno... E hoje... ai de mim!, que dentro em mim concentro Dores e gostos num lutar eterno!
O amor, Senhora, vede: Prendeu-me. Em vão me estorço, e me debato, e grito; Em vão me agito na apertada rede... Mais me embaraço quanto mais me agito!
Falta-me o senso: a esmo, Como um cego, a tatear, busco nem sei que porto: E ando tão diferente de mim mesmo, Que nem sei se estou vivo ou se estou morto.
Sei que entre as nuvens paira Minha fronte, e meus pés andam pisando a terra; Sei que tudo me alegra e me desvaira, E a paz desfruto, suportando a guerra.
E assim peno e assim vivo: Que diverso querer! Que diversa vontade! Se estou livre, desejo estar cativo; Se cativo, desejo a liberdade!
E assim vivo, e assim peno: Tenho a boca a sorrir e os olhos cheios de água; E acho o néctar num cálix de veneno, A chorar de prazer e a rir de mágoa.
Infinda mágoa! Infindo Prazer! Pranto gostoso e sorrisos convulsos! Ah! Como dói assim viver, sentindo Asas nos ombros e grilhões nos pulsos!
**************************************************
|
|