
Os Sinos
Publicado em 20/06/2007 13:40:00 | Tópico: Edgar Allan Poe
| I
Escuta: nos renós tilintam sinos argentinos! Ah! que de mundo de alegria o som cantante prenuncia! Como tinem, lindo, lindo, no ar da noite fria e bela! Vão tinindo e o céu inteiro se constela, florescente, refulgindo com deleites cristalinos! Dão ao Tempo uma cadência tão constante como um rúnico descante, com os tintinabulares, pequeninos sons, bem finos, que nascendo vão dos sinos, sim, dos sinos, sim, dos sinos, saltitantes, bimbalhantes, dentre os sinos.
II
Escuta: em núpcias vão cantando os sinos, áureos sinos! Quantos mundos de ventura seu tanger nos prefigura! No ar da noite, embalsamado, como entoam seu enlevo abençoado! Tons dourados, lentas notas concordantes... E tão límpido poema aí flutua para as rolas que o escutam, divagantes, vendo a lua! Volumoso, vem das celas retumbantes todo um jorro de eufonia que se amplia, "O futuro é belo e bom!" - clama o som, que arrebata, com em êxtases divinos, no balanço repicante que lá soa, que tão bem, tão bem ecoa na vibrante voz dos sinos, sinos, sinos, carrilhões e sinos, sinos, no rimado, consonante som dos sinos.
III
Escuta: em longo alarma bradam sinos, brônzeos sinos! Ah! que história de agonia, turbulenta, se anuncia! Treme a noite, com pavor, quando os ouve em seu bramido assustador. Tanto é o medo que, incapazes de falar, se limitam a gritar, em tons frouxos, desiguais, clamorosos, apelando por clemência ao surdo fogo, contendendo loucamente com o frenesi do fogo, que se lança bem mais alto, que em desejo audaz estua de, no empenho resoluto de algum salto (sim! agora ou nunca mais!), alcançar a fronte pálida da lua! Oh! os sinos, sinos, sinos! De que lenda pavorosa, de alarmar, falam tanto? Clangorantes, ululantes, graves, finos, quanto espanto vertem, quanto, no fremente seio do ar! E por eles bem a gente sabe - ouvindo seu tinido, seu bramido - se o perigo é vindo ou findo. Bem distintamente o ouvido reconhece pela luta, na disputa, se o perigo morre ou cresce, pela ampliante ou descrescente voz colérica dos sinos, badalante voz dos sinos, sim, dos sinos, sim, dos sinos, do clamor e do clangor que vêm dos sinos!
IV
Escuta: dobram, lentamente, os sinos, férreos sinos! Ah! que mundo pensares tão solenes põem nos ares! Na silente noite fria, quando a alma se arrepia à ameaça desse canto melancólico de espanto! Pois em cada som saído da garganta enferrujada há um gemido! E os sineiros (ah! essa gente que, habitando o campanário solitário, vai dobrando, badalando a redobrada voz monótona e envolvente...), quão ufanos ficam eles, quando vão tombar pedras sobre o humano coração! Nem mulher nem homem são, nem são feras: nada mais do que seres fantasmais. E é seu Rei quem assim tange, é quem tange, e dobra, e tange. E reboa triunfal, do sino, a loa! E seu peito de ventura se intumesce com os hinos funerários lá dos sinos; dança, ulula, e bem parece ter o Tempo num compasso tão constante qual de rúnico descante, pelos hinos lá dos sinos! Ah! dos sinos! Leva o Tempo num compasso tão constante como em rúnico descante, pela pulsação dos sinos, a plangente voz dos sinos, pelo soluçar dos sinos! Leva o Tempo num compasso tão constante, que a dobrar se sente, ovante, bem feliz esse rúnico descante, com o reboar que vem dos sinos, a gemente voz dos sinos, o clamor que sai dos sinos, a alucinação dos sinos, o angustioso, lamentoso, lutuoso som dos sinos!
**************************************************
|
|