
Os cinco sentidos
Publicado em 14/06/2007 19:10:00 | Tópico: Almeida Garrett
| São belas - bem o sei, essas estrelas, Mil cores - divinais têm essas flores; Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: Em toda a natureza Não vejo outra beleza Senão a ti - a ti!
Divina - ai! sim, será a voz que afina Saudosa - na ramagem densa, umbrosa. Será: mas eu do rouxinol que trina Não oiço a melodia, Nem sinto outra harmonia Senão a ti - a ti!
Respira - n'aura que entre as flores gira, Celeste - incenso de perfume agreste. Sei... não sinto: a minha alma não aspira, Não percebe, não toma Senão o doce aroma Que vem de ti - de ti!
Formosos - são os pomos saborosos, É um mimo - de néctar o racimo: E eu tenho fome e sede... sequiosos, Famintos meus desejos Estão... mas é de beijos É só de ti - de ti!
Macia - deve a relva luzidia Do leito - ser por certo em que me deito Mas quem, ao pé de ti, quem poderia Sentir outras carícias, Tocar noutras delícias Senão em ti - em ti!
A ti! ai, a ti só os meus sentidos, Todos num confundidos, Sentem, ouvem, respiram; Em ti, por ti deliram. Em ti a minha sorte, A minha vida em ti; E, quando venha a morte, Será morrer por ti.
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