
Iluminuras
Publicado em 06/07/2013 17:43:35 | Tópico: Arthur Rimbaud
| ILUMINURAS Artur Rimbaud
DEPOIS DO DILÚVIO Assim que a ideia do Dilúvio sossegou, Uma lebre se deteve entre trevos e campânulas cambiantes, e fez sua prece ao arco-íris, através da teia de aranha. Oh! as pedras preciosas que se escondiam, - e as flores que já olhavam. Na grande rua suja açougues se abriram, e barcos foram lançados nos degraus do mar lá no alto como nas gravuras. O sangue correu, no Barba-Azul, - nos matadouros, - nos circos, onde o selo de Deus empalidecia as janelas. O sangue e o leite correram. Castores construíram. "Mazagrans" enfumaçaram os botecos. Na imensa mansão de vidros ainda gotejantes, meninos de luto admiram imagens maravilhosas.
Uma porta bateu, - e sobre a praça da vila, o menino girou os braços, compreendidos os cata-ventos e galos dos campanários de toda parte, sob um temporal cintilante. Madame *** instalou um piano nos Alpes. A missa e as primeiras comunhões foram celebradas nos cem mil altares da catedral. As caravanas partiram. E o Splendide-Hotel foi erguido no caos de gelo e da noite polar. Desde então, a Lua ouviu o uivo dos chacais nos desertos de timo, - e écoglas de tamancos grunhindo no pomar. Depois, na floresta violeta, florescente, Êucaris me disse que era a primavera. - Lago, salte, - Espuma, role sobre aponte e por cima desses bosques; - panos negros e órgãos, - trovão e raio, - subam e rolem; - águas e tristeza, subam e renovem esses Dilúvios. Pois desde que dissiparam, - Oh as pedras preciosas se enterrando, e as flores se abrindo! - tudo é um tédio! E a Rainha, a Feiticeira que acende sua brasa num pote de barro, não vai querer jamais nos contar tudo o que sabe, e que nós ignoramos.
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