
Mater
Publicado em 12/05/2012 00:37:37 | Tópico: Augusto dos Anjos
| Como a crisálida emergindo do ovo Para que o campo flórido a concentre, Assim, oh! Mãe, sujo de sangue, um novo Ser, entre dores, te emergiu do ventre!
E puseste-lhe, haurindo amplo deleite, No lábio róseo a grande teta farta — Fecunda fonte desse mesmo leite — Que amamentou os éfebos de Sparta. —
Com que avidez ele essa fonte suga! Ninguém mais com a Beleza está de acordo, Do que essa pequenina sanguessuga, Bebendo a vida no teu seio gordo!
Pois, quanto a mim, sem pretensões, comparo, Essas humanas cousas pequeninas A um biscuít de quilate muito raro Exposto aí, à amostra, nas vitrinas.
Mas o ramo fragílimo e venusto Que hoje nas débeis gêmulas se esboça, Há de crescera há de tornar-se arbusto E álamo altivo de ramagem grossa.
Clara, a atmosfera se encherá de aromas, O Sol virá das épocas sadias... E o antigo leão, que te esgotou as pomas, Há de beijar-te as mãos todos os dias!
Quando chegar depois tua velhice Batida pelos bárbaros invernos! Relembrarás chorando o que eu te disse, A sombra dos sicômoros eternos!
|
|