
O que deve ser dito (Günter Grass)
Publicado em 29/05/2012 15:27:43 | Tópico: Outros Autores
| O que deve ser dito (Günter Grass)
Porque guardo silêncio há demasiado tempo sobre o que é manifesto e se utilizava em jogos de guerra em que no fim, nós sobreviventes, acabamos como meras notas de rodapé.
É o suposto direito a um ataque preventivo, que poderá exterminar o povo iraniano, conduzido ao júbilo e organizado por um fanfarrão, porque na sua jurisdição se suspeita do fabrico de uma bomba atômica.
Mas por que me proibiram de falar sobre esse outro país [Israel], onde há anos - ainda que mantido em segredo – se dispõe de um crescente potencial nuclear, que não está sujeito a nenhum controle, pois é inacessível a inspeções?
O silêncio geral sobre esse fato, a que se sujeitou o meu próprio silêncio, sinto-o como uma gravosa mentira e coação que ameaça castigar quando não é respeitada: “antissemitismo” se chama a condenação.
Agora, contudo, porque o meu país, acusado uma e outra vez, rotineiramente, de crimes muito próprios, sem quaisquer precedentes, vai entregar a Israel outro submarino cuja especialidade é dirigir ogivas aniquiladoras para onde não ficou provada a existência de uma única bomba, se bem que se queira instituir o medo como prova… digo o que deve ser dito.
Por que me calei até agora?
Porque acreditava que a minha origem, marcada por um estigma inapagável, me impedia de atribuir esse fato, como evidente, ao país de Israel, ao qual estou unido e quero continuar a estar.
Por que motivo só agora digo, já velho e com a minha última tinta, que Israel, potência nuclear, coloca em perigo uma paz mundial já de si frágil?
Porque deve ser dito aquilo que amanhã poderá ser demasiado tarde [a dizer], e porque – já suficientemente incriminados como alemães – poderíamos ser cúmplices de um crime que é previsível, pelo que a nossa cota-parte de culpa não poderia extinguir-se com nenhuma das desculpas habituais.
Admito-o: não vou continuar a calar-me porque estou farto da hipocrisia do Ocidente; é de esperar, além disso, que muitos se libertem do silêncio, exijam ao causador desse perigo visível que renuncie ao uso da força e insistam também para que os governos de ambos os países permitam o controle permanente e sem entraves, por parte de uma instância internacional, do potencial nuclear israelense e das instalações nucleares iranianas.
Só assim poderemos ajudar todos, israelenses e palestinos, mas também todos os seres humanos que nessa região ocupada pela demência vivem em conflito lado a lado, odiando-se mutuamente, e decididamente ajudar-nos também.
(Tradução: Baby Siqueira Abrão)
Esse poema do prémio Nobel alemão Günter Grass causou enorme polémica na Alemanha, na Europa e em Israel ao criticar o seu próprio país por vender mais um submarino, com capacidade nuclear, a Israel e criticar também o governo israelita "por ameaçar a já frágil paz mundial" com a possibilidade de um ataque ao Irão.
Acho que os programas nucleares de destruição deveriam ser banidos da face da Terra! Paz para Todos!
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