
Elegia das Águas Negras para Che Guevara
Publicado em 09/03/2009 20:51:13 | Tópico: Eugénio de Andrade
| Elegia das Águas Negras para Che Guevara
Atado ao silêncio, o coração ainda pesado de amor, jazes de perfil, escutando, por assim dizer, as águas negras da nossa aflição.
Pálidas vozes em prado procuram O potro mais livre, a palmeira mais alta sobre o lago, o barco talvez Ou o mel entornado da nossa alegria.
Olhos apertados pelo medo aguardam na noite o sol do meio-dia, a face viva do sol onde cresces, onde te confundes com os ramos de sangue do verão ou o rumor dos pés brancos da chuva nas areias.
A palavra, como tu dizias, chega húmida dos bosques: temos que semeá-la; chega húmida da terra: temos que defendê-la; chega com as andorinhas que a beberam sílaba a sílaba na tua boca.
Cada palavra tua é um homem de pé; cada palavra tua faz do orvalho uma faca, faz do ódio um vinho inocente para bebermos contigo no coração em redor do fogo.
de Eugénio de Andrade em Poemas a Guevara (selecção e tradução de Egito Gonçalves - colecção Os Olhos e a Memória - Editora Limiar - 1975)
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