O futuro é espaço,
espaço da cor da terra,
da cor da nuvem,
da cor da água, do ar,
espaço negro para muitos sonhos,
espaço branco para toda a neve,
e para toda a música.
Atrás ficou o amor desesperado
que não tinha lugar para o beijo,
tem lugar para todos no bosque,
em plena rua, em casa,
tem sítio subterrâneo e submarino,
que prazer é achar, por fim,
subindo
um planeta vazio,
grandes estrelas claras como a vodca
tão transparentes e desabitadas,
chegar com o primeiro telefone
para que falem mais tarde outros homens
de suas enfermidades.
O importante é apenas perceber-se,
gritar desde uma dura cordilheira
e ver numa outra ponta
os pés de uma mulher recém-chegada.
Adiante, vamos sair
do rio sufocante
em que com outros peixes navegamos
desde a manhã à noite migratória
e agora neste espaço descoberto
vamos voar para a pura solidão.
(In "Memoria de Isla Negra". Brasil: P&Pm, 2007)
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