Por trás de mim até o Sul, o mar havia
rasgado os territórios com glacial martelo,
e desde a solidão arranhada o silêncio
converteu-se subitamente em arquipélago,
e verdes ilhas foram envolvendo a cintura
da minha pátria,
pólem ou pétalas de uma rosa marinha
e, ainda mais, eram profundos os bosques iluminados
por pirilampos, o lodo fosforescente,
deixavam cair as árvores grandes cordas secas
como num circo, e a luz andava gota a gota
como uma bailarina verde de espessura.
Eu cresci estimulado por raças caladas,
por penetrantes achas de fulgor madeira,
por fragrâncias secretas de terra, ubres, vinho:
a minha alma foi uma adega perdida entre os trens
onde foram esquecidos dormentes e barris,
arame, aveia, trigo, cochayuyo* e tábuas,
e o inverno com suas negras mercadorias.
Assim meu corpo foi se estendendo, de noite
meus braços eram neve,
meus pés o território furacão,
e cresci como rio num aguaceiro,
e fui fértil como tudo
o que caía em mim, germinações,
cantos de folha e folha, escaravelhos
que procriavam, novas
raízes que ascenderam
ao sereno,
tormentas que ainda sacodem
as torres do loureiro, o ramo rubro
da avelã, a paciência
sagrada do lariço,
assim a adolescência
foi território, tive
ilhas, silêncio, monte, crescimento,
luz vulcânica, barro dos caminhos,
fumaça bravia de paus queimados.
*Planta marinha comestível com mais de três metros de comprimento.
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