~ Sonetos de William Shakespeare ~
Os Sonetos de Shakespeare (The Sonnets) constituem uma coleção de 154 poemas sob a forma estrófica do soneto inglês que abordam uma galeria de temas tais como o amor, a beleza, a política e a morte.
Foram escritos, provavelmente, ao longo de vários anos, para no final, serem publicados, exceto os dois primeiros, em uma coleção de 1609; os número 138 ("When my love swears that she is made of truth") e 144 ("Two loves have I, of comfort and despair") haviam sido previamente publicados em uma coletânea de 1599 intitulada The Passionate Pilgrim.
Os Sonetos foram publicados em condições que, todavia hoje seguem sendo incertas. Por exemplo, existe uma misteriosa dedicatória no começo do texto onde um certo "Mr. W.H." é descrito pelo editor Thomas Thorpe como "the only begetter" (o único inspirador) dos poemas; se desconhece quem era essa pessoa. A dedicatória se refere também ao poeta com a igualmente misteriosa frase "ever-living", literalmente imortal, mas normalmente aplicado a uma pessoa já morta. Mesmo que os poemas tenham sido escritos por William Shakespeare, não se sabe se o editor usou um manuscrito autorizado por ele ou uma cópia não autorizada. Estranhamente, o nome do autor está dividido por um hífen na capa e no começo de cada página da edição. Estas controvérsias têm incentivado o debate sobre a autoria das obras atribuídas a Shakespeare.
Os primeiros 17 sonetos se dirigem a um jovem, incentivando-o a casar-se e a ter filhos, de forma que sua beleza possa ser transmitida às gerações seguintes. Este grupo de poemas é conhecido com o nome de procreation sonnets (sonetos da procriação).
Os sonetos que vão do 18 ao 126 também são dirigidos a um jovem, porém agora ressaltando o amor que é descrito com muito lirismo.
Os compreendidos entre o127 e o152 abordam temas como a infidelidade, a resolução para controlar a luxúria, etc.
Os últimos dois sonetos, o 153 e o 154, são alegóricos.
~ Estrutura ~
Cada soneto é formado por quatro estrofes, três quartetos e um terceto final, compostos em pentâmeros iâmbicos (o verso também usado nas obras dramáticas de Shakespeare) com um esquema de rima abab cdcd efef gg (forma que hoje em dia é conhecida como soneto shakespereano). Há três exceções: os sonetos 99, 126 e 145. O número 99 tem quinze versos. O 126 consiste em seis tercetos e dois versos brancos (sem rimas) escritos em letras itálicas. Por outro lado, o 145 está em tetrâmetros iâmbicos, e não em pentâmeros. Com freqüência, o começo do terceiro quarteto assinala a volta do verso no que o tom do poema muda, e o poeta expressa uma revelação ou aparição.
~ Personagens ~
Três são os personagens aos que se dirigem a maioria dos sonetos: um formoso jovem, um poeta rival e a dama morena; convencionalmente, cada um destes destinatários é conhecido pelo sobrenome de, respectivamente, o Fair Youth, o Rival Poet e a Dark Lady. A linguagem lírica expressa admiração pela beleza do jovem, e que mais tarde mantém uma relação com a Dark Lady. Desconhece-se se os poemas e seus personagens são fictícios ou autobiográficos. Se fossem autobiográficos, as identidades dos personagens estariam abertas ao debate. Diversos especialistas, especialmente A. L. Rowse, têm sugerido identificar os personagens com figuras históricas.
Segue os 154 sonetos, traduzidos no livro de Vasco Graça Moura, "Os sonetos completos de William Shakespeare", Editora Landmark, para quem quiser apreciar:
Soneto 1
Quer-se prole às mais belas criaturas
pra que não morra a rosa da beleza
e em fenecendo as coisas já maduras
um terno herdeiro as lembre. Mas acesa,
contrai-te a luz do teu olhar, consomes
teu ser no ser das tuas próprias chamas
e onde há abundância crias fomes,
cru inimigo de ti, teu ser desamas:
tu que do mundo és fresco ornamento
que a gaia primavera arauto fez,
em teu botão te enterras a contento
e terno avaro esbanjas mesquinhez:
Apieda-te do mundo, ou sê glutão.
Comas tu o devido, a cova não.
(continua...)
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