Machado de Assis : Stella
em 29/09/2008 13:10:00 (4363 leituras)
Machado de Assis

Já raro e mais escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o último pranto
Por todo o vasto espaço.


Tíbio clarão já cora
A tela do horizonte,
E já de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora


À muda e torva irmã,
Dormida de cansaço,
Lá vem tomar o espaço
A virgem da manhã.


Uma por uma, vão
As pálidas estrelas,
E vão, e vão com elas
Teus sonhos, coração.


Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
Não vês que a vaga inquieta
Abre-te o úmido seio?


Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
Virá do roxo oriente.


Dos íntimos sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera.
Em lágrimas a pares.


Do amor silencioso.
Místico, doce, puro,
Dos sonhos do futuro,
Da paz, do etéreo gozo,


De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma está deserta.


A virgem da manhã
Já todo o céu domina . . .
Espero-te, divina,
Espero-te, amanhã.



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