Vinícius de Moraes : Balada dos mortos dos campos de concentração
em 02/09/2008 18:40:00 (6633 leituras)
Vinícius de Moraes

Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Ocos, flácidos cadáveres
Como espantalhos, largados
Na sementeira espectral
Dos ermos campos estéreis
De Buchenwald e Dachau.
Cadáveres necrosados
Amontoados no chão
Esquálidos enlaçados
Em beijos estupefatos
Como ascetas siderados
Em presença da visão.
Cadáveres putrefatos
Os magros braços em cruz
Em vossas faces hediondas
Há sorrisos de giocondas
E em vossos corpos, a luz
Que da treva cria a aurora.
Cadáveres fluorescentes
Desenraizados do pó
Grandes, góticos cadáveres!
Ah, doces mortos atônitos
Quebrados a torniquete
Vossas louras manicuras
Arancaram-vos as unhas
No requinte da tortura
Da última toalete . . .
A vós vos tiraram a casa
A vós vos tiraram o nome
Fostes marcados a brasa
E vos mataram de fome!
Vossas peles afrouxadas
Sobre os esqueletos dão-me
A impressão que éreis tambores —
Os instrumentos do Monstro —
Desfibrados a pancada:
Ó mortos de percussão!
Cadáveres de Nordhausen
Erla, Belsen e Buchenwald!
Vós sois o húmus da terra
De onde a árvore do castigo
Dará madeira ao patíbulo
E de onde os frutos da paz
Tombarão no chão da guerra!

FONTE: JORNAL DA POESIA




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Enviado por Tópico
jessébarbosadeolivei
Publicado: 17/09/2008 15:34  Atualizado: 17/09/2008 15:34
Da casa!
Usuário desde: 14/09/2008
Localidade: SALVADOR, Bahia ---- BRASIL
Mensagens: 368
 Re: Balada dos mortos dos campos de concentração
POETEI ESTE POEMA PRA MOSTRAR QUE O POETINHA,
AINDA QUE HAJA SE DADO, DE CORPO E ALMA,
Á TEMÁTICA LÍRICO-AMOROSA,
NÃO PASSOU AO LARGO DA LUTA CONTRA
O TOTALITARISMO, O IMPERIALISMO E A OPRESSÃO.

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