António Gedeão : Abaixo o mistério da poesia
em 18/09/2007 23:00:00 (7536 leituras)
António Gedeão

Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
Para ver quem é,
Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas
Despertas;
Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
Órfãos de pais e mães,
Andarem acossados pelas ruas
Como matilhas de cães;
Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
Num silêncio de espanto
Rasgado pelo grito da sereia estridente;
Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
Amassando na mesma lama de extermínio
Os ossos dos homens e as traves das suas casas;
Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA

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Enviado por Tópico
Sterea
Publicado: 22/04/2009 14:42  Atualizado: 22/04/2009 14:47
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Mensagens: 2999
 Re: Abaixo o mistério da poesia
Que engraçado!... e eu que nunca tinha lido este soberbo texto, e me achei a escrever "Abaixo a Poesia!!"... mas parece que António Gedeão me inspirou!... (ele há coisas!!!)

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