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Re: O sonho
(por favor substituamos a foto do meu amigo, vizinho e amante da escrita, Sebastião Da Gama, "um camarada um bocadinho mais velho")
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width=900]http://lh3.ggpht.com/poemas.poetas/SARyo5TjNmI/AAAAAAAAALQ/SFhvhsfQLG0/SebastiaoGama_thumb2.jpg[/img]
“Não sou, junto de vós, mais que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não. Falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos."
"Quando cheguei a Setúbal quis acabar com o que fica bem chamado "o terror da chamada"; é esse terror que leva a criança a faltar à aula, a inventar uma desculpa, a tremer perante o professor. Em Setúbal, de princípio perguntavam: "É para nota?" (E havia medo na voz.) "Não. É para aprender" Pois sim senhor, para aprender é que é: para eu aprender, para o aluno aprender; para estarmos mais perto um do outro: para partirmos a aula ao meio: pataca a mim, pataca a ti."
"Cada vez me apetece menos classificar os rapazes, dar-lhes notas, pelo que eles "sabiam". Eu não quero (ou dispenso) que eles metam coisas na cabeça; não é para isso que eu dou aulas. O saber - diz o povo - não ocupa lugar; pois muito bem: que eles saibam, mas que o saber não ocupe lugar, porque o que vale, o que importa (e para isso pode o saber contribuir e só contribuir) é que eles se desenvolvam, que eles cresçam, que eles saibam "resolver", que eles possam "perceber". "Outra coisa em que eu tomei, a propósito de palavras, foi no eufemismo. Perceberam. O maroto do Artur, quando eu lembrei que a pessoa a quem morre um parente muito querido diz de preferência que ele faleceu, descobriu logo: "Ah! Por isso é que no jornal nunca vem morrimentos, vem sempre falecimentos"." "Se eu não risse era um palerma" diz Sebastião da Gama. "Se eu o mandasse para a rua (há quem faça isso, por causa disto, sim senhor.') era uma dúzia de palermas'
"Eu sou contra a tinta encarnada nos exercícios; notas, emendas ou o que é que tenha que escrever, costumo fazê-lo a lápis, se o exercício está a tinta; e a tinta se o exercício está a lápis. A tinta azul, claro está. Porque a vermelha lembra-me o sangue a escorrer de feridas - e pode dar-se o mesmo, se não em todos os alunos, ao menos em alguns.
E o risco? O risco num trabalho que foi feito, por vezes, com esforço, amor, convicção? Um risco pode equivaler a uma reguada. E na alma, que é onde dói mais; eles não sabem protestar; talvez nem mesmo intimamente eles protestem; mas lá no fundo deles qualquer coisa se desequilibra: ou então acham isso natural - o que é muito pior. MUITO PIOR."
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