Arthur Rimbaud : Iluminuras
em 06/07/2013 17:43:35 (2349 leituras)
Arthur Rimbaud

ILUMINURAS
Artur Rimbaud

DEPOIS DO DILÚVIO Assim que a ideia do Dilúvio sossegou, Uma lebre se deteve entre trevos e campânulas cambiantes, e fez sua prece ao arco-íris, através da teia de aranha. Oh! as pedras preciosas que se escondiam,
- e as flores que já olhavam. Na grande rua suja açougues se abriram, e barcos foram lançados nos degraus do mar lá no alto como nas gravuras. O sangue correu, no Barba-Azul,
- nos matadouros,
- nos circos, onde o selo de Deus empalidecia as janelas. O sangue e o leite correram. Castores construíram. "Mazagrans" enfumaçaram os botecos. Na imensa mansão de vidros ainda gotejantes, meninos de luto admiram imagens maravilhosas.

Uma porta bateu,
- e sobre a praça da vila, o menino girou os braços, compreendidos os cata-ventos e galos dos campanários de toda parte, sob um temporal cintilante. Madame *** instalou um piano nos Alpes. A missa e as primeiras comunhões foram celebradas nos cem mil altares da catedral. As caravanas partiram. E o Splendide-Hotel foi erguido no caos de gelo e da noite polar. Desde então, a Lua ouviu o uivo dos chacais nos desertos de timo,
- e écoglas de tamancos grunhindo no pomar. Depois, na floresta violeta, florescente, Êucaris me disse que era a primavera.
- Lago, salte,
- Espuma, role sobre aponte e por cima desses bosques;
- panos negros e órgãos,
- trovão e raio,
- subam e rolem;
- águas e tristeza, subam e renovem esses Dilúvios. Pois desde que dissiparam,
- Oh as pedras preciosas se enterrando, e as flores se abrindo!
- tudo é um tédio! E a Rainha, a Feiticeira que acende sua brasa num pote de barro, não vai querer jamais nos contar tudo o que sabe, e que nós ignoramos.


Imprimir este poema Enviar este poema a um amigo Salvar este poema como PDF
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 06/07/2013 17:47  Atualizado: 06/07/2013 17:47
Usuário desde: 06/08/2009
Localidade: Sorocaba - SP - Brasil
Mensagens: 2029
 Re: Iluminuras
Écoglas: Écloga' é um pequeno poema pastoral que apresenta, na maioria das vezes, a forma de um diálogo entre pastores ou de um solilóquio.
O termo foi inicialmente aplicado aos poemas bucólicos de Virgílio, que imitava os Idílios, de Teócrito; a obra de Virgílio tornou-se conhecida, convencionalmente, como Éclogas(42-37 a.C.).(wikipédia).

Links patrocinados

Visite também...