Pablo Neruda : O Pai
em 12/08/2012 23:40:20 (5342 leituras)
Pablo Neruda

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.

Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.

Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.

Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.

Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.

O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.

Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...

E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.



Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage


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Enviado por Tópico
Lucineide
Publicado: 08/02/2016 02:30  Atualizado: 08/02/2016 02:30
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 Re: O Pai
Belíssimo poema. Muitas vezes eu também só queria o colo do meu pai. Grande, Pablo Neruda!

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