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Enviado por | Tópico |
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AlvaroGiesta | Publicado: 13/06/2009 07:35 Atualizado: 13/06/2009 07:35 |
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Re: Poema dum Funcionário Cansado
Mais uma vez um dos meus poetas preferidos.
Este ao lado de Herberto Helder e Pessoa. Apenas uma advertência ao adoptante deste poeta: A estrutura do poema não devia ser desvirtuada. Isto é, devia respeitar-se a estrutura tal qual o poeta escreveu o poema. Este, por exemplo, que faz parte do livro "VIAGEM ATRAVÉS DE UMA NEBULOSA" (que também devia ser referenciado), é composto por três longas estrofes que aqui o adoptante reuniu numa estrofe só. Para que, quem comentasse o poema - não dizendo apenas se é bonito ou feio, mas comentá-lo seguindo linhas de leitura - o pudesse fazer de ordem a observar, nas várias estrofes, a gradação com que o poeta exprime o sentimento. Por exemplo neste: Na 1.ª estrofe que terminaria em "... num quarto só), o poeta coloca-nos perante alguém que se encontra muito só e confuso. Isto é, o "eu poético" está marcado pela confusão e pela solidão Na 2.ª estrofe que termina com a interrogação "Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?", o sujeito poético, com ironia "o chefe apanhou-me com o olhar lírico na gaiola do quintal da frente" apresenta-se como "um funcionário apagado", "triste", "cansado". É um auto-retrato irónico "debitou-me na minha conta de empregado" a criticar a sociedade aqui na pessoa do chefe que obriga ao cumprimento do dever e na pessoa do empregado que afinal cumpre sem orgulho o seu dever do qual se sente extremamente cansado. E o valor da interrogação ainda na segunda estrofe a remeter-nos para aquilo que afinal é toda a poesia de Ramos Rosa. Uma interrogação constante na busca do sempre novo, ou seja, da palavra que se dá a descobrir. Na 3ª estrofe, que é o resto do poema, o sujeito poético evade-se por pouco tempo para as "velhas palavras generosas", para o "amigo menino" de outros tempos mas depressa se sente irremediavelmente só nessa existência. Alias, todo o texto é uma gradação disso mesmo: Uma recusa ao sonho no lugar a que o sujeito poético tem direito na vida. Desculpem-me esta escalpelização que faço do texto, mas a paixão que sinto por determinados poetas da nossa literatura leva-me a este exagero sempre que os leio. Por isso tento, aqui, fugir da sua leitura para não dar ares daquilo que não sou. É que talvez esteja anquilosado poeticamente dado que, também eu, antes de escrever um poema o idealizo na mente e, tantas vezes, o estruturo no papel de ordem a que ele possa dizer no fim aquilo a que me propus no princípio, antes de o passar à sua fase final. |
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