Vou por vielas sombrias,
Só pensamentos e passos,
Com os olhos afundados em espiral.
Que operações do espírito
Se entregam a estes passos?
Vou pelas espirais sombrias
Daqueles que não têm amor,
Vielas sombrias como perguntas sem resposta,
Entranhando-se numa cidade animal,
De desejos mal iluminados.
Vou por vielas sombrias
Onde as paredes são pontuadas
Pelos vultos de putas,
Famintas de mais para viverem sem amor,
Cansadas, entregues, também elas,
À espiral das suas vidas.
Esta noite, como todas as outras,
As vielas sombrias, as putas,
Nada têm de sórdido.
São-me familiares como o pensamento
Que o amor não ilumina.
Este é, afinal, o críptico caminho da casa
("Últimos Poemas” 2009, Quasi Edições)