Nuno Rocha Morais : Trincheira
em 22/05/2011 16:31:26 (2280 leituras)
Nuno Rocha Morais

À hora zero, deixei de rezar à Virgem.
Ao meu lado, alguém tentava manter
As entranhas dentro do corpo
Que já não lhe pertencia,
Entranhas com vida própria,
Deslizando, serpenteando,
Pairevam luzes irreais como medusas
Enquanto troava
A ridicula voz de barítono.
Em tudo isto, as vidas são
Cativeiro, fedor, canículas.
Não me perdoarei ter traído
A morte de tantos
Só porque a morte não me quis.


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Enviado por Tópico
Betimartins
Publicado: 23/05/2011 20:33  Atualizado: 23/05/2011 20:33
Da casa!
Usuário desde: 25/06/2007
Localidade:
Mensagens: 304
 Re: Trincheira
Lindo ultrajante e revolto em misterios...A morte..
Gostei
Paz profunda
Betimartins

Enviado por Tópico
Transversal
Publicado: 24/05/2011 02:37  Atualizado: 24/05/2011 02:37
Membro de honra
Usuário desde: 02/01/2011
Localidade: Lisboa (a bombordo do Rio Tejo)
Mensagens: 3755
 Re: Trincheira
O que mais impressiona neste poema é que Nuno nunca esteve na guerra colonial,. Quando o li pela primeira vez veio me imediatamente à memória Fernando Pessoa e “O menino de sua mãe”
“No plaino abandonado,
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas de lado a lado -
Jaz morto, e arrefece”

Talvez Pessoa o tenha inspirado, ou apenas uma análise, mas que a morte anda presente, sim, e que o perdão necessário quase que aparece como uma súplica:
“Não me perdoarei ter traído
A morte de tantos”
também…

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