No dia em que morreste, Deus
Baniu todos os aviões.
Esperei uma dor que me fulminasse,
Uma dor que soubesse ser a imagem
De assim te ter perdido, mas não:
Só um buraco, quase tranquilo,
No dia em que Deus
Baniu todos os aviões
Submetendo-os à lei grave da terra.
Não estive sequer na hora
Em que deixaste ver pela última vez,
Serena, para depois partires,
Sem olhares para trás, sem um aceno.
Terias tu vindo ao meu encontro
E, de dentro, como na minha infância,
Sustido todas as tempestades,
Dizendo-me «não tenhas medo»?
Deus baniu todos os aviões
Para que nada perturbasse
A tua última viagem?
(Últimos Poemas quasi edições)