O que nao tenho e desejo
E que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.
Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.
Gosto muito de criancas:
Nao tive um filho de meu.
Um filho!... Nao foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que nao nasceu.
Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saude...
Fiz-me arquiteto? Nao pude!
Sou poeta menor, perdoai!
Nao faco versos de guerra.
Nao faco porque nao sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que nao lutei!
(29-janeiro-1943)
*Poesia extraida do livro "Antologia Poetica - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pag. 126.
O maior autor do Modernismo no Brasil.