
MANCHA HUMANA
Data 20/06/2007 23:35:50 | Tópico: Poemas -> Sombrios
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Decorria o ano de 1803. Tropas britânicas atacavam Dezenas de aldeias africanas. Na tarde quente O silêncio era rasgado Pelos gritos dilacerantes de criaturas Cuja vida era ceifada Num golpe cruel e inesperado. O Sol torrava Centenas de corpos inanimados Espalhados em tropel Pela savana africana. Em ritual lento e uniforme O batuque soava Incessante Anunciando o luto que pairava Sobre o continente negro. Homens, mulheres e crianças Fugiam, corriam espavoridos Embrenhavam-se Na densa floresta virgem Derrubando-se na ânsia desmedida De escapar à morte.
Que o Monstro arrancado Dos Sóis que hão-de vir Seja o perfil de Satanás Revestido da cor do Luto
Aldeias e tribos inteiras A serem chacinadas Enquanto ali, aos teus pés Jorrava o sangue ainda quente De uma jovem negra Atrozmente mutilada. E mais sangue negro corria veloz Por toda a estepe angolana. Vindos de todas as direcções Doíam-te os gritos Os passos confusos E o choro de crianças Invocando o nome de Mãe Já morta, Com a tenra voz Impregnada de angústia.
Caíste, então, de joelhos Choraste lágrimas de impotência Ergueste os braços E gritaste: - Só peço uma única razão! Como resposta Pressentiste a morte espalhar-se Cada vez mais Nada havia a fazer contra a fúria solta Das Bestas Humanas! Era o Medo! Era o Luto! Era a Fome! Era, tão-somente, a requintada calamidade da guerra. Suplicando misericórdia ao deus da tua religião Bamboleaste o teu enorme corpo suado Ao ritmo do antigo ritual da feitiçaria. Esta é a última imagem que me resta de ti, meu irmão O resultado psicológico por tal façanha Contrária à moral e às leis da Natureza Humana Firmou-se numa impressão violenta De desgosto e repulsão Que tu e eu jamais esqueceremos! E, por aí, num canto homicida do Planeta A besta continua a declamar:
Que eu seja país de moléstia Morte, doença nefasta Onde não cresce a giesta Nem o terror se afasta.
Lutemos, Senhor!
Manuela Fonseca
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