Diário de uma doente...

Data 20/06/2007 12:22:18 | Tópico: Prosas Poéticas

Durante o tempo em que estive internada, uma das únicas noites da minha vida em que a vida já não fazia sentido nenhum. Eu escrevi durante esse tempo em que não tinha ninguém com quem falar, escrevi este texto para vós.

Se eu soubesse que ia ser assim, se eu soubesse que o sangue que me cai da alma fosse tanto, se soubesse que há a possibilidade de morrer encostada a coisa nenhuma aqui nesta cama de hostipal, sozinha.
Se eu soubesse que as coisas seguiriam este rumo eu teria dito a ti, àquele, ao outro e a toda a gente que vos amo tanto.
É um amor tão grande!...
Não quero que me julgueis só queria que a minha morte fosse um exemplo, uma boa maneira de abrirem os olhos nesta noite onde me não sei. Só queria que a minha morte vos fizesse dar a volta a todo o mal que encobre os corações.
Tu que me lês, porque não me dás um abraço? Não vês que estou deitada sobre este chão branco com três ou quatro agulhas espetadas nas veias... não vês que me estão a drogar? Que mundo é este, que vida é esta... porque é que tocam os sinos em tons de suícidio muito antes do corpo cair?
Corto-me, corto nos braços o coração destruído pela podridão dos sentimentos, vejo o sangue manchar o chão, aqui há-de secar, é já tarde e as enfermeiras dormem. Se elas soubessem a minha dor, a dor que sinto, toda esta dor a invadir-me. Se elas soubessem...
Bem é melhor terminar, só tenho três folhas e já estão quase todas escritas, quando terminarem talvez não consiga mais, estas tirei-as da casa de banho, são papéis onde se deveriam secar as mãos.
Onde a vida vai parar? Este fim de caminho sempre tão perto, esta vontade de o terminar.
Isto tudo só para dizer que vos amo e que não tenho culpa de estar assim.




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