
- À NOITE -
Data 12/08/2009 19:45:55 | Tópico: Textos
| (republicado)
Só à noite somos Claramente do universo. De dia não.... De dia somos como as formigas, Como os cupins ou as abelhas. Menos harmonizados...claro. À noite ao lançar os olhos Sobre a via do leite, Ao se afogar pela indagação permanente Do que será verdadeiramente isso; Do que se esconde por trás Das estrelas... Nessa hora... sentimo-nos menores. Queremos à noite Saber o verdadeiro porquê das bombas, Dos holocaustos, Dos infanticídios. Só à noite nossos corações pulsam Em compasso com a nossa consciência. De dia... É o peito mecânico, Imperceptível. De dia a consciência está à sombra Do sol da sobrevivência, Da manutenção da dignidade. À noite não... À noite temos um encontro Com o velho travesseiro Que tudo sabe. É à noite que vêm à baila A decisão dos suicidas. É à noite que irrompem Os rios das lágrimas mais sentidas E secretas. É à noite que temos A clara percepção da nossa pequenez Diante da vida. À noite sabemos exatamente Que de nada valem os excessos, As diferenças materiais. À noite sentimos O quanto somos cúmplices Da mesmice humana, E é à noite mesmo Que afinamos os nossos discursos Para justificarmos a nós mesmos. À noite abraçamos a quem amamos Com os braços dos desprotegidos. À noite a criança que fomos Grita por aconchego. E é também à noite que, Por tudo isso, nos é concedido O bálsamo mais que bendito do adormecer. Boa noite!
Frederico Salvo
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