
Suspiras veludo...
Data 13/06/2007 15:35:49 | Tópico: Poemas
| Hoje acordei e o som é sólido. O canto dos pássaros entra pela minha janela como belas e suaves auroras. A água com que me lavo mistura-se com pulsões brilhantes e espessas. A máquina de barbear faz metais cinzentos e ásperos. O fecho do casaco dispara pequenos sons para todo o lado. Mastigo algo à pressa e a minha jugular treme alguns ténues véus de cores claras. Quando fecho a porta atrás de mim esta explode em mil pedaços escuros e gordos que recuam nas paredes. Agora os meus passos criam crateras duras pelo chão. Os carros passam por mim e criam espessas nuvens de som que cobrem a luz do sol por toda a rua. As pessoas amontoam-se com as suas crateras pelos passeios e com o algodão que produzem quando se acotovelam. Uma porta abre-se e de lá de dentro saem discussões de um rubro inflamado com fôlegos esvoaçantes. Um cão ladra emaranhados prateados. E o seu dono tira o céu de um acordeão. E as moedas que caem na sua caixa de cartão soltam setas afiadas de clarões de magnésio. As vozes são fios coloridos que saem das pessoas e se misturam pelo ar. Cruzam-se e voam lentamente. Perdem-se e encontram o seu destino. São tantas cores. Tantas texturas. São a marca única de cada um. Todas diferentes e todas molhadas pelo líquido que o vento faz quando passa entre as folhas das árvores. Agora estou contigo. O teu toque larga pétalas brancas. Suspiras veludo. Fazes silêncio para conseguires ver o meu sorriso. E é então que te aproximas e tapas com a mão o teu murmúrio…
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