
Cartas do Suriname
Data 03/08/2009 03:28:45 | Tópico: Contos
| Carta 1.
Mãe, eu não queria ser tão direta, mas num vai ter jeito, o papel no Suriname é caro, muito caro. Mãe, o pai morreu. Foi assim: ele foi ao médico (mãe, no Suriname os médicos se vestem com terno preto e gravata vermelha ) reclamou de dor no peito. O médico deu uma risada, disse assim: “gases, gases”. Mandou ele para casa. Papai riu e disse: “imagina!, ir no médico por causa dum peidos de nada”. O resto a senhora já sabe. Manda um dinheiro, senão num dá para enterrar o pai.
Carta 2.
Mãe, como a senhora não mandou dinheiro, eu tive que enterrar o pai no quintal mesmo. A senhora imagina, mãe, que aqui no Suriname tem um imposto para ser enterrado? Eu perguntei o porquê da taxa; o médico — que mandou o papai peidar em casa — é, também, o prefeito da cidade; ele disse assim: “se vocês pagam imposto para cagar lá no Brasil, por que aqui não podem pagar para morrer no Suri Suri?”
Carta 3.
Mãe, ontem eu acordei o pai estava desenterrado, acho que a cova ficou rasa demais. Tinha dois cachorros comendo o cu do pai, mãe, literalmente. O que aconteceu com a senhora? Às vezes penso que a senhora não gostava muito do pai, e que deve estar rindo com a boca bem aberta, só porque eu disse que um pastor alemão comeu o cu dele. Mãe, manda dinheiro. Ah! O prefeito perguntou se a senhora gosta dum coroa charmoso.
Carta 4.
Mãe, o dinheiro não chegou. Eu falei para o médico/prefeito o que aconteceu. Ele disse que se fosse no Brasil o cu do pai já estaria no osso bem antes dele morrer. Mãe eu quero ir embora daqui. Manda o dinheiro.
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