
Viagem no vento
Data 06/06/2007 14:59:11 | Tópico: Poemas
| Em silêncio, esperando pela porta fechada que abrirá os braços para os receber, aguardam pela passagem de um vento tubular que os levará para onde não querem ir.
Estes olhos, conformados, realistas, desistiram de sonhar os sonhos da infância onde eles se perdiam no imenso mar da imaginação, em que a alma navegava de ilha em ilha, procurando os segredos particulares que cada uma delas guardava nos tesouros enterrados pelos piratas do sentir.
Em cada tesouro havia sempre um mundo novo pleno de cores e de cheiros desconhecidos, habitado por gente que era bonita e interessante e de onde não apetecia sair nunca.
Por lá encontraram estes olhos outros olhos, que procuravam olhos amigos para partilhar estes mundos novos e alegres.
E naquele momento, o mundo foi feliz.
Mas estes olhos não estavam destinados a ver os outros olhos a envelhecer...
Separaram-se encharcados nas lágrimas dos olhos que se julgavam juntos para sempre e que sem querer aumentaram o tamanho do mar que um dia os uniu.
Estes olhos juraram nunca mais esquecer os olhos que partiram...
Agora, estes olhos desfocados aguardam pelo vento metálico tubular que os levará como folhas varridas num jardim, sem vontade de encararem outros olhos igualmente deslavados que estão no rosto cansado que habita o vulto imóvel à sua frente que lhe sorri.
Com esforço reconhecem naqueles olhos que o miram, os olhos perdidos no antigo mar das emoções.
Reconhecem os contornos ovais e a cor de avelãs torradas pelo sol do verão, reconhecem o brilho da determinação que sempre fascinou estes olhos que olham os outros que lhe sorriem.
Mas estão diferentes, tais como estes olhos, os outros perderama inocência e a doçura que os caracterizavam tão vincadamente. O tempo, a vida e a distância encarregaram-se de as apagar destes olhos que se olham espantados e reencontrados.
Lágrimas correm destes olhos que durante muito tempo correram como loucos procurando os olhos que agora os foram encontrar sem que eles estivem a procurá-los.
Agora é tarde para voltarem a procurarem tesouros escondidos em ilhas imaginárias, no antigo mar das brincadeiras de crianças.
O mar já não separa os olhos que sempre se quiseram encontrar...
Esse mar já não existe...
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