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Data 24/06/2009 08:57:54 | Tópico: Prosas Poéticas
| Soltei as amarras no vazio da essência Vagueie sem norte arrastando o esqueleto na sobrevivência Nos silêncios por pura conveniência, Nos sorrisos tentando esconder a existência Aqui e ali plantei uma flor, abriram as pétalas, fizeram-se ao mundo Criaram raízes, mostrei-lhes os matizes da vida, nas cores do arco íris Agora a meio caminho, sigo em frente pela charneca Tentando alcançar os areais daquela praia deserta Onde um dia me afogarei pela certa Sozinha, mas desperta e sobretudo liberta. Olho para trás e vejo uma clareia vazia, agora sei, nada lá cabia Nem o amor, muito menos a paixão, a sofreguidão que consola o coração Quando não se vê a vida pelo mesmo prisma, nada a fazer, perdeu-se a rima Soltei as amarras, e sigo a direito Deixei de lado o preconceito, finjo não ver o despeito De quem me olha e não entende Que dói muito mais viver sem essência, visando somente a conveniência O bem parecer, os outros não ofender com as nossas opções. Dói muito mais, esconder que temos alma, e essa alma carrega ilusões Podem ser simples caprichos aos olhos de todos, mas são nossas São as nossas entranhas, que gritam por elas, recebemo-las ao nascer E depois, querem por força que as passemos a esquecer Dói muito mais, viver a mentira, negar os ideais, esconder as ideias Do que bater com a porta, dizer basta, sou gente, perdi a paciência Quero ser dona da minha existência, não importa caminhar sozinha Não importa terminar num deserto Num deserto de areia fina, ah vou rebolar Vou de areia me inundar, e quem sabe me afundar Mas sei que lá no fundo, bem no fundo onde a areia é mais fina Tem alguém para me receber no ultimo instante, um pouco antes de morrer.
Antónia Ruivo
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