
Nos limites do tempo
Data 18/06/2009 21:08:20 | Tópico: Poemas
| E tu, que vens apesar deste luto todo que ensombra o mundo pedir-me em súplicas lascivas poemas de beijos abraços e sexo, não vês a desgraça que paira a teu lado? Não posso abraçar-te nem sequer desejar-te... Não te posso amar! Doem-me os braços do peso da espingarda! Não posso beijar-te que me arde a garganta de dor, que sinto a cabeça dorida e cansada dos gemidos de agonia que ouvi. E punhais de morte cravados no peito, rasgam-me as vísceras com remorsos das mortes que fiz por essas montanhas esventradas de profundas crateras de tantas granadas nelas estoirar.
Não posso abraçar-te, muito menos beijar-te... dói-me tudo por dentro... vou primeiro hibernar e dormir um longo sono um sono eterno do qual jamais quero acordar. Vou estabelecer monólogos de perdão com as paredes da sepultura onde me quero deitar e me quero perder… e nesse coval, depois de me redimir, sonhar as cores dum horizonte de sonho e pensar o doirado dos trigais. Após esse longo sono, redesenhar a vida,
descobrir o tempo novo e novos oásis na geometria dos cristais dos teus olhos e traçar horizontes de tudo nas linhas firmes do teu querer… pintar a lua de prata e o sol de mais luz, reinventar num céu azul diferente o voo mágico dos pardais.
Quero, nos limites do tempo, descobrir a vida para poder desenhar o sítio onde há mais luz… o voo da Fernão Gaivota Capelo que se julga perdida mas se encontra no seu regresso ao mar. Quero, incessantemente, procurar um futuro diferente um futuro sem sombras, sem guerras, com luz… para depois nessa paz respirar o teu ar o perfume que exalas, sentir-te por dentro, a gritar.
Quero-te, depois, meia laranja saboreada a rigor com gosto a mel ou sabor a sal, como o mel doirado do sabor dos teus beijos ou o odor do teu corpo suado com sabor a cloreto de sódio cristal. E reinventar-te numa nova origem. Contigo passear os nossos corpos cansados, lassos, lentos, húmidos… depois duma noite cansada de amor. E não escrever o poema que a chuva me inspira a chuva que lá fora cai sem parar… húmida, rugosa, assustadoramente social.
________ escrito sob o pseudónimo Alvaro Giesta
|
|