
Ode Às Horas De Espera Na Noite Que Tudo Aniquila
Data 04/06/2007 13:12:32 | Tópico: Poemas
| pensamentos que nem eu consigo ajuda-los a pensar, a espera conduz-me ao cansaço, leva-me ao vazio saber que não sou nada - se fosse, a espera não existia -.
vaguear é o meu chão, o meu sitio e a nação dos pensamentos.
falo-me sozinho, sozinho escrevo-me, - serei eternamente o meu único remetente - pinto-me e masturbo-me, arranho-me e ainda me puxo para dentro de mim, vergo-me perante a inocência da vontade sexual. sexo. sexo no silêncio. silêncio sexual.
silêncio.
as cortinas dos olhos permanecem com nódoas, o futuro arde e queima os móveis e ainda falta queimar as cortinas dos olhos. jogos com peões e regras, alguns truques e sexo. jogos de sexo com truques.
fode-me, ao ouvido.
só o bem te desejo dentro da cela, vou ficar a guardar o teu respirar: a mentira perdeu-se. fora do teu sonho, minha doce menina, os dedos puxam a tinta agarrada ao papel e a perfeição é desfeita. divagação. estou a divagar muito depressa.
xxxiu, ouve o silêncio.
aqui está a luz quando as sombras da janela se levantam: os braços param na escuridão, sobre a cabeça cai o pó que flutua no ar escuro e o cabelo desamparado na cama a abrir fendas como buracos sempre maiores. quero espalhar um sangue novo nestes lençóis, agarrar com força o corpo virgem ao calor e à lingua de alguém. sexo.
ao ouvido, foder-te ao ouvido.
leva o teu tempo e o teu espaço, aqui, tu aqui usas a minha mente, exploras e abusas do meu sentimento sentido, usas o meu pensamento e abusas da minha mente. tens sitios para ir, sempre pareceste ter sitio para rir e degraus largos o suficiente para te sentares e rires. leio-te a mente, tu não percebes mas eu consigo ler-te a mente. jogos com peões, regras e alguns truques.
desejo jardins vazios. silêncio.
todas as caras que conheci são um picotado, são bocados e pedaços do meu objectivo e corridas por jardins vazios sem meta e são o silêncio, o silêncio daquilo para que corro.
isto vive para outros homens, outros degraus ou como disse: para outros homens. as mulheres. mulheres vivem em degraus, pisam e sobem escadas. vive para outros homens, para outros degraus. diz-me se isto é verdade, isto precisa de ti.
queres conhecer o buraco? preciso de alguém que queira merecer conhecer o buraco.
sim, podes ler amor se quiseres, estas palavras podem ser amor à divagação. divagar, divagação rápida: amo-te. vai ficar tudo velho e assusta-me que tudo venha a ganhar teias de aranha, somente idade no tempo e pó como o que flutua no ar e cai sobre a cabeça.
outra vez e outra vez quando era um balão e andava ao sopro do teu vento, do ar impulsionado pela tua boca, pelos teus lábios: e o teu sopro. volta atrás, outra vez e outra vez e ainda sou criança, brinco com bonecas e masturbo-me às escondidas. volta atrás do atrás e não sou nada, não me lembro de sentir a espera antes de nascer. leva-me ao vazio saber que não sou nada - se fosse, a espera não existia -.
caminhos de terra sempre vazios: desejo.
nem na morte há paz: quantos são os escravos do dinheiro depois de morrer? sou tantas pessoas e só quero relembrar quantas pessoas já morreram e eu continuo a sê-las. na memória brilham os picotados, os bocados e pedaços da minha morte - o objectivo, a meta que não existe - que viviam nas caras que conheci e já morreram.
fiz as cinzas que lá estavam antes da fogueira, aqueci o corpo com dois cobertores e recordações. com as unhas, matei pêlo a pêlo e vi cada bocado de pele além da pele.
o olhar cruzou-se com todos os corpos.
do choro compelido, nasceu do choro compulsivo o ódio, nasceu do ódio a espera, nasceu da espera estas palavras. não sou nada, resta-me o vazio ao saber que não sou nada - se fosse, a espera não existia -.
HUGO SOUSA
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