As palavras calaram-se
nas pontas dos meus dedos.
Os gritos mudos de silêncio,
transfiguraram-se em leves gemidos
de libertação.

Queria poder dar voz
a esta alma inquieta
as palavras seguem
religiosamente o seu silêncio
imperturbável

Calaram-se, para não mais se ouvir
a voz desta saudade invasora
dos meus dias.
Minhas mãos estereis,
há muito deixaram de conceber
as palavras que denunciem o meu
sentir.

Queria poder gritar as angústias
de um povo desprotegido.
Dos meus dedos apenas
se ouve os silêncios do espanto e
da indignação.

Quando conseguirei engravidar
de sentidos e de sinónimos
as palavras que teimosamente
se escondem na ponta dos
meus dedos?


Sigo sempre o mesmo ritual
deixo que a alma se liberte
nas palavras que se soltam.