
A CINÉTICA DO INTANGÍVEL
Data 11/06/2009 12:24:00 | Tópico: Poemas -> Reflexão
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Observo passos ao longe: Na verdade, eu tão-só os escuto. Tenho A forte impressão de parecerem bastante nitentes Para o raio de ação da minha audição. No Entanto, o manto da intangibilidade Guarnece-os e os absconde Sobre o ignoto píncaro do monte Onde irrompe o inexpugnável horizonte.
Como que avidamente, Fico querendo desvelar Este hermético mistério, mas não consigo. Em minha mente, Vislumbro ordas de ladrões soturnos e escorregadios, Sádicos seriais assassinos furtivos, Rancorosos fantasmas: Habitantes das minhas tenras Eras lôbregas que me jazem, Há muito, no memorial limbo.
De repente, Como num passe de mágica, Meu pensamento viaja:
Passeia sorumbaticamente Pelas alamedas da tortura de Guantânamo e de Bagdá, Do genocídio na plaga do Araguaia, Pelas salas e celas escuras do DOPS. Ainda, neste mesmo pungente passeio, Contemplo um homem Rosnar ferozmente contra a fronte da Intencional morte. O nome dele...Vladimir Herzog!
Deparo-me com as feridas psicológicas de frei Tito: Continuamente florescem e inexoravelmente O lancinam, dando a luz a um facínora Que lhe fala cruelmente ao ouvido.
Testemunho impotente e furioso O condor da maldade, Trajado sombriamente Com seu riso malevolamente sutil, Voar impune, gracejoso, cáustico, soberano: Hipocritamente intrépido, varonil!
Contudo, é só a verve que se revolta: Ela constata que a velhacaria É o maior estandarte da espécie humana; É a energia que movimenta a roda-viva Da nossa odiosa invisível força.
Mas a chama do sol teima em fulgurar: Talvez espere que um dia o povo Saia do estado de animação suspensa E reivindique o comando do mundo.
Ah, e a elite destronada, Ao cair no abismo da desgraça, Depreenda que uma vida de migalhas Atenua a fome, porém também, Erige o caminho para a emancipação Do dragão confinado no âmago das massas.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA
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