
Madrugadas vindas duma longa noite
Data 09/06/2009 08:29:29 | Tópico: Poemas
| Dai-me uma folha, que seja, uma só folha seca, ao menos, para escrever. Eu quero escrever as coisas inconcretas que saem desta minha sã loucura misturada com laivos de furibunda melancolia. Quero imaginar outro mundo, um mundo novo com malmequeres coloridos, que apaguem do mapa, duma vez por todas este mundo actual em guerra envolvido. Oh ironia! Oh madrugadas vindas duma longa noite, ímpia noite, secreta e tenebrosa noite que tarda tanto em fazer-se claro dia.
Passeio pelas varandas interiores da alma e verifico que trago em mim as imagens da limpidez da água que tanta guerra teima em turvar e fazer lama. Rios de sangue rubro como a rosa rubra que já murcha exangue, teimam em fazer murchar o meu poema. Mas o meu poema há-de ser grande! E, como uma espada levantada quero que o gume aponte para novas formas de pensar a humanidade e dê a um mundo novo um novo rumo e um mais próspero e lindo horizonte.
E é desse novo mundo onde só floresça o trevo de quatro folhas orvalhado no odor do malmequer campestre que eu hei-de compor poemas com mãos de mestre. E com um nome sonante. Sim! Porque eu quero para esses novos poemas usar um nome sonante. Um nome que vá para além de mim. Para além do meu. Não quero um nome como este tão simples, assim… quero um nome sem ser nome de cédula de baptismo com um som sonoro diferente do meu para que todos fiquem a saber que quem escreveu esses versos não fui eu mas outro para além de mim o outro meu eu como se o meu nome fosse os degraus na terra e o outro eu os anéis que prende a Terra ao Céu.
Publicado no Jornal "Rostos" e no Recanto das Letras em 06/08/2007 Código do texto: T594691
de "do Meu Grito sufocado"
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