
Escrevo ao sol
Data 26/05/2009 12:47:08 | Tópico: Prosas Poéticas
| Escrevo ao sol que não nasce, teimosamente permanece ao poente Ignora a lutas das gentes, que penosamente sobrevivem Jogadas numa qualquer valeta despida A que sempre chamaram lida Escrevo ao sol o meu desagrado. Em surdina procuras esquecer um punhado de pesado fardo Em contrapartida Aqueces aqueles que nasceram de cu virado prá lua, madrasta crua Encobres os delírios possantes dos que se dizem governantes Esqueceste os restantes Porque teimas sol, em não ver, o velho que está a morrer Num qualquer beco ao abandono, já foi homem de tanto dono Sugaram-lhe as entranhas, como aranhas, agora agoniza dores medonhas E tu sol, que devias ser de todos, recusas-te a nascer Recusas aquecer a criança de olhar sem vida Porque cedo foi colhida, pela discrepância, incompetência por excelência Tua… que fechas os olhos e dormes, o sono arrebatado ao suor do condenado Chamado pobre. Escrevo ao sol que não nasce, pensando arremessa-lo de encontro ao mundo dorido Escrevo ao sol pedindo encarecidamente que se vire para nascente Que seja de todos a candeia Que resguarde nos seus raios quentes, brilhantes, os mendigos deste mundo, Os pobres, os sem abrigo, as crianças que por castigo carregam a nossa cruz Essa mesma cruz, que dizem ser de Jesus. Diz-me sol, diz-me como tudo isto se traduz Para uma língua que seja compreensível A todos aqueles que morrem à mingua.
Poetamaldito
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