
Inútil é pensar, porque eu existo sem isso
Data 24/05/2009 20:38:15 | Tópico: Poemas
| Dizem-me que o Homem que não pensa é inútil. E que pensar é existir. E que, se o Homem pensa, existe. E que, por si só o pensar, prova a todos a sua Existência. Então eu existo porque penso!
Mas as árvores do campo e as pedras da rua e o eléctrico da cidade no seu chiar enervante prolongado e constante, mesmo não pensando, existem! Logo, não é preciso pensar para se provar a existência de algo. Abaixo a filosofia que apregoa que só o ser pensante existe.
O musgo da parede velha a cair de madura e cansada e o bolor que já tem séculos de vida mesmo antes do seu aproveitamento medicinal e que nunca pensou ser experiência de laboratório e salvação de vidas, também existe sem pensar.
O que existe, afinal, é aquilo que vejo, sinto e apalpo nos seus contornos – diariamente conheço! – e não algo imaterial que me dizem que existe mesmo sem o ver e sentir, só porque o penso.
Que a alma do Homem existe e o seu Criador também… – dizem-me. Porque acreditar que tudo o que há para além da física, existe? E porque necessito eu de provar a minha existência partindo da existência dum ser superior que – dizem-me deu origem? Ou porque, provando a minha existência partindo do facto de que SOU um ser pensante e, como tal, existo, sou obrigado a aceitar a existência do tal Deus que apregoam?
Sei que existo. E algo em mim – seja alma ou não – é fluxo e fluir dessa existência.
Mas se as pedras existem e as árvores e as águas revoltadas do mar existem mesmo não tendo alma nenhuma, porque preciso eu de pensar para poder existir? E porque afirmar que, se eu existo porque penso, é porque um ente superior me deu a faculdade de pensar para chegar à Sua e à minha existência?
Porquê esta metafísica toda para pensar coisa nenhuma?! Vejo metafísica suficiente nas pedras da rua que piso e nas águas do mar que me banham o corpo mesmo sem pensar, que não precisam de metafísica nenhuma para existir. Porque tudo o que vejo e apalpo e cheiro e sinto, existe sem pensar!
E tudo o mais, para além disto, ainda que me chamem doido varrido afigura-se-me ser igual a coisa nenhuma.
_____Pensando Alberto Caeiro_____
Publicado nos sites USINA DAS PALAVRAS e RECANTO DAS LETRAS
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