
Felicidade, definindo o possível
Data 14/05/2009 13:04:08 | Tópico: Prosas Poéticas
| A demanda da felicidade é uma saga de muitos capítulos que penso nunca ver o seu fim. Tal pote de ouro, no fim do arco-irís. Como encontrar algo transparente, diáfano, sensível, que se escurece e intimida com um arcar de sobrancelhas? Como fechar em local seguro o que se renova diariamente, sob pena de murchar e perder a voz? Felicidade, uma definição impossível, no entanto, a razão da nossa existência. Como tudo, o que depende do ponto de vista do observador, poderá ser relativo, ou não. Para uns, é manter a cabeça á tona de água, respirando apenas. Para outros, férias no fim do mundo, concretizando sonhos, de anos de privações. Para outros, um pouco de paz, pacatez, segurança e uma vida com objectivos e metas. Dentro da relatividade da vida, vivemos momentos absolutos que não se repetem nem se prevêem. Sentimos em cada poro da pele, a gota de suor que derramamos, na busca do momento supremo de amor, vitória, alegria, realização pessoal ou simplesmente, o conforto da paz. Momentos felizes, sem dúvida que os há. Talvez a felicidade, seja apenas isso. A soma de casos felizes. Momentos coloridos, que se projectam na continuidade da sua história. Sobre cacos, feridas e desvarios. Sobre sonhos emoções e ilusões. Sobre pinceladas azuis de esperança, como que, se renovando e revivendo. Diria que a felicidade é uma escada, que se sobe, degrau a degrau. Degraus, frágeis, que se quebram, com o peso da dúvida. Degraus, que por vezes, nos são retirados sem aviso, sendo a queda grande e sofrida. Degraus, de tão gastos e puídos pelo uso, que já não acompanham o peso de um pé, numa vontade viçosa. Galhos de uma escada, que tenho subido e descido, sempre que relativizo o impossível. Como entender que tenho a relativa certeza absoluta do amor? Ou, possuir uma não certeza, de ser correspondido? Como se edifica na insegurança? Assim é a felicidade. Ou é, ou não é. Dos cinzentos, que a vida me impõe, estou servido. Não quero semear o que mais tarde irei colher a contragosto. Felicidade, sim. Mais ou menos, não. Felicidade, é uma flor que murcha, com a turbulência da dúvida, e floresce, com a rega da certeza da esperança, de ser feliz. Por vezes, penso em quem não se atreve a sonhar, em quem fica na certeza vazia, do dia que se repete. Em quem tem medo, da dor de ser feliz. E revejo os meus dias de sufoco e impotência, afundando-me num poço negro, que se fecha e engole. Tempos confortáveis de nadas, deitados em coisas nenhumas. Vidinha de uma vida que corre. Felicidade. Tem de ser absoluta. Uma entrega total, para o seu retorno ser, total. Definindo o impossível, diria. Felicidade, é a flor, absolutamente maravilhosa, que se colhe, de uma vida relativa, que flue, sem parar.
RuiSantos
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