
Parte de Dentro
Data 25/05/2007 07:48:20 | Tópico: Poemas
| Com urgência, Uma guinada cá dentro. Uma força sem opostos.
Limpo o vidro encharcado E limpo-o novamente Para lhe remover o nevoeiro. Espero! Deixo passar estação, paragens No desejo de me alimentar, E alimento; numa fracção de segundo. Outra vez perto, outra vez longe.
Abstenho-me, Aumento a fome. Puxo do cigarro para matar a sede Enganando-me.
Visito-te para me acalmares. Respondes com ideias céleres Em si, que me projectam Para lá de além.
Alimentas a minha vontade recalcada De partir para longe Adiando a definitiva.
Dás-me mais sonhos sem conteúdo, Esperanças vãs.
Compro mais um livro que não vou ler, Talvez me surpreenda! Tenho o cérebro cheio De princípios de histórias, De primeiras páginas; Algumas inacabadas Quem sabe, para sempre.
Limpo a chuva do meu relógio Para deixar passar o tempo: Ele não passa, embaciou.
Solto esta criatura? Este louco fechado Em regras? Ou deixo-o continuar a consumir. Como disseste, mordo-me por dentro.
Acho que tens razão No que deixas no ar. Não deveria ter nascido; Não agora; não neste tempo Onde tudo converge e se afasta. Este tempo que me deixa morto.
Quero mergulhar em ti Com um medo de to pedir. As minhas águas são turvas, Paradas, opacas, escuras: Tão concretas como um objecto sólido.
Nunca te deixaria mergulhar em mim. Perder-te-ias para sempre! Serias uma criatura consumida E este lago não deixaria rever O teu corpo tão sagrado a mim.
Estou cheio de "não seis", Imundo de dúvidas arrecadadas, Empoeirado como se multiplicado Por cem os meus anos de vida. Tão jovem - dizem.
Jovem é o velho que vive!
Até quando?
Sou feito de várias partes (Assim o deduzo) Todas tão saturadas, Tão bafientas Que sei onde estão pelo cheiro Que me sufoca.
Nunca as poderei apontar. Isto é parte do que vai cá dentro. Uma parte mínima, Um vómito a principiar.
Nunca gostei de regurgitar. Por vezes temos que fazer Aquilo que não gostamos. A vida é bela!
06/03/2007
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